A 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, na capital paulista, chega ao seu quarto dia de programação com muita venda de produtos agroecológicos, milhares de frequentadores e muita música boa. A programação cultural da Feira está recheada de boas atrações, que se apresentam em dois palcos distintos: o Culinária da Terra e o palco principal, Palco Arena.
As raízes da música caipira, a carregada moda de viola, provenientes do meio rural, narram a vida simples do povo do campo, entraves sociais e valorização da natureza.
A dupla de violeiros "Cacique e Pajé" trouxe um repertório autoral que narra as lutas de seu povo: "Nós vamos apresentar aí uma meia dúzia de moda que nós temos, de nossa autoria mesmo. (...) Inclusive a primeira música a gente já canta representam o índio, falando de nós. Então esse tema é muito importante que cada vez possa evoluir mais e os índios possam ter seus direitos, aquilo que é merecido, que o branco tomou dele."
Os artistas se apresentaram na sexta-feira (5), no Palco Culinária da Terra, o mesmo que recebeu o também camponês e homem da terra Marquinhos Monteiro, que fala sobre a importância e significado da feira: "Para mim é um prazer imenso, porque eu sou camponês e trabalho nessa linha agroecológica, sou agricultor. Aí quando você traz isso pra São Paulo é a valorização do homem e da mulher do campo e as pessoas dão valor ao que é bonito, belo. Saber que é necessária a reforma agrária, porque se as pessoas não estiverem no campo produzindo, como que a sociedade vai se alimentar?", questiona.
O quilombola e violeiro de São Julião, distrito de Teófilo Otoni (MG), Pereira da Viola também participou da Feira. Ele tocou seu repertório no Palco Arena. E depois dedilhou orgulhosamente as 10 cordas da viola para tocar o hino nacional brasileiro.
Ele falou ao Brasil de Fato sobre a conferência deste sábado, sobre a junção de segmentos em prol de um só ideal: "Eu acredito muito nesse processo onde a comunicação verdadeira, o diálogo verdadeiro, esteja junto com comida verdadeira, com música verdadeira, com brasilidade extremamente verdadeira, em diálogo com a América Latina, com a presença do nosso companheiro Mujica", ressalta.
A cultura da viola às vezes parece estar muito distante da capital paulista, remetendo ao pantanal do Mato Grosso, ao interior de São Paulo, aos folguedos e às folias populares. Mas está muito mais presente e viva do que se imagina:
"Musicalmente ela [viola] deixou de ser caipira, porque ela toca todos os estilos de músicas. O movimento é diversificado, é um movimento que não tem um segmento único, não tem uma só classe social, são várias, várias gerações, o protagonismo feminino está presente hoje no movimento da viola", comenta Pereira.
A Feira ainda tem programação com shows de violeiros neste domingo (7), às 15h, com Ricardo Virgini Trio.
Edição: Anelize Moreira