Costumo dizer que quem gosta de pessoas assim é só herdeiro delas
Quando a gente pode, é bom guardar um pouco de dinheiro para atender a alguma necessidade do futuro.
Mas quando guardar dinheiro vira mania, aí é mal. Tem gente que vive uma vidinha bem ruim, tendo condições de viver bem, porque não quer gastar dinheiro.
Come mal, mora mal, não compra livros, não vai a festas, não viaja... Tudo pra guardar dinheiro.
Costumo dizer que quem gosta de pessoas assim é só herdeiro delas.
O legal do dinheiro é a gente usar para fazer as coisas que precisa ou gosta, viver bem. Sem jogar dinheiro fora nem gastar feito besta, mas também não virar um pão-duro do tipo tem condições de viver bem, mas passa vontade e necessidade, vive mal porque não quer gastar nada.
Só quer acumular, para alegria dos herdeiros, repito.
Tem um monte de adjetivos para falar desse tipo de gente que, segundo dizem, “não abre a mão nem pra dar bom dia” e que “parece que tem escorpião no bolso”.
Para um sujeito pão-duro, o povo usa palavras bem feias ou gozadoras, como munheca, mão-de-vaca, rídico, miserável, chifre-de-cabra, cobiçoso, mesquinho, muquirana, unha-de-fome e muitas outras mais ofensivas.
Minha relação com o dinheiro é inspirada num ditado de Nova Resende, minha terra. Lá, dizem assim: “Mais vale um gosto do que um caminhão de abóboras”.
Por isso eu me espanto com casos como o de um homem que tinha uma fazenda numa cidade pequena que virou polo industrial, cresceu muito, e essa fazenda se valorizou, ficando dentro da área urbana.
Ele loteou a fazenda e ganhou milhões, já velho e solteiro. E só almoçava num restaurante popular da prefeitura, pagando um real por refeição. Gostava de ler jornal, mas só lia o do dia anterior, dado por um vizinho.
Os sobrinhos devem estar se esbaldando com a grana que ele não gastou.
Outro caso é de um sujeito que tinha um monte de laranjeiras no quintal não dava nenhuma laranja de graça, para ninguém. Quando algum menino pobre perguntava se podia apanhar algumas laranjas do seu quintal, ele respondia assim:
— Dois reais a dúzia.
Outro pão-duro de que eu tive notícia morava uma pequena cidade paulista. Até os mendigos o conheciam como mão-de-vaca.
Havia a tradição de semanalmente os mendigos irem de casa em casa pedindo esmola, e os moradores já reservavam um monte de moedas para dar a eles, mas todos pulavam a casa do munheca, sabendo que ele não daria nada.
Um dia apareceu na cidade um mendigo vindo de fora, que não sabia da fama dele. Bateu em sua porta. Ele gritou lá de dentro:
― Quem é?
― É esmola ― falou o mendigo.
Ele respondeu:
― Pode pôr debaixo da porta.
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