A partir desta terça-feira (4), a Fábrica de Cultura Capão Redondo, localizada na Zona Sul de São Paulo (SP), recebe a exposição que homenageia o grafiteiro Alexandre Luis da Hora Silva, conhecido pelo nome artístico Niggaz.
O projeto Niggaz da Hora - Graffiti, Memória e Juventude foi contemplado pelo edital Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros. A exposição ocorre até o dia 23 de abril e busca recuperar o legado de um dos precursores do grafite na cidade. Morador do Jardim Eliana, no distrito do Grajaú, Extremo Sul da capital paulista, o artista morreu jovem, aos 21 anos, de forma violenta.
Apesar do pouco tempo de contribuição ao movimento, a obra deixada por Niggaz é profusa, como ressalta Vini Enivo, amigo pessoal do grafiteiro.
O artista é reconhecido pela simplicidade e autenticidade do trabalho e por romper fronteiras entre centro e periferia.
Enivo, que também é integrante do coletivo que organiza a exposição, o Imargem, afirma que, antes de tudo, a exposição é uma homenagem de amigos e pessoas que o admiram. "É uma busca de 13 anos. Desde sua morte, a gente sempre tentou fazer esta homenagem", afirmou.
Na exposição, 17 artistas, como Binho Ribeiro, Paulo Ito, Tarsila Portella e Mauro Neri foram convidados para criar, com sprays, colagens, pinturas em tinta a óleo, obras inspiradas na arte do grafiteiro. Além do evento, o projeto produziu encontros mensais de conversas, um livro e um documentário sobre o legado do artista paulistano
Perfil
Os amigos contam que Niggaz desenhava desde criança. Seu trabalho ganhou destaque em 1997, aos 15 anos, logo quando começou a grafitar.
O grafiteiro Jerry Batista, convidado pela curadoria da exposição, pontua que a característica mais marcante de Niggaz era a produção de uma arte autêntica, feita com simplicidade e escassez do material. Eles foram colegas de bairro e se conheceram em 1996. "Desde o dia em que o conheci, ele já tinha um estilo próprio, muito brasileiro", lembrou o artista.
Ele recorda que a temática do trabalho do amigo refletia a vivência local e retratava, em geral, a população negra. "Os brasileiros conseguiam olhar para o desenho dele e se enxergar nele. Eu acho que essa é a parte mais importante da contribuição dele para o movimento. Eu diria que o desenho ficou mais fácil com o estilo dele", disse Batista.
Na mesma linha, Enivo afirma que Niggaz chamou atenção por realizar, sem recursos financeiros ou incentivos, técnicas elaboradas de desenho. "Com muita simplicidade, ele atingia níveis muito avançados. E com pouco tempo para fazer porque, muitas vezes, os grafites eram ilegais. Mas com uma tinta marrom e preta, ele já dominava como ninguém a técnica", analisou.
Ele pontua que o grafiteiro inspirou outros artistas e ganhou reconhecimento internacional, apesar de ter a carreira encerrada de forma breve e inesperada, quando seu corpo foi encontrado nas águas da represa Billings em abril de 2003. "Em cinco anos de pinturas e grafite, ele fez muita coisa e influenciou muita gente", disse Enivo.
"A gente tem que preservar a memória e valorizar a história. A gente tem muito orgulho de pertencer ao movimento que é tão grande hoje como o grafite. A gente, em primeiro lugar, tem que prestar reverências a quem abriu estes caminhos para a gente", completou o organizador.
Hoje, seu nome batiza a Praça do Niggaz da Hora, na rua Belmiro Braga em Pinheiros, onde também está um painel assinado pelo grafiteiro.
Serviço
Expo Niggaz da Hora – Graffiti Memória e Juventude
Local: Fábrica de Cultura Capão Redondo
Endereço: Rua Bacia de São Francisco, s/n
Data: 4/4 a 23/4
Mais informações: (11) 5822-5240
Edição: Vanessa Martina Silva