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Se tiver coragem, Cunha pode estremecer as bases golpistas divulgando o que sabe

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Cunha terá que devolver o que surrupiou da Petrobras por ter recebido propina em contrato com a empresa petrolífera
Cunha terá que devolver o que surrupiou da Petrobras por ter recebido propina em contrato com a empresa petrolífera - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Cunha hoje é uma peça que preocupa os políticos golpistas

O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que todos se lembram teve papel relevante no processo de afastamento da Presidenta Dilma Rousseff, na prática um golpe parlamentar, pegou 15 anos e quatro meses de prisão ao ser julgado em Curitiba. Terá também que devolver o que surrupiou da Petrobras por ter recebido propina em contrato com a empresa petrolífera para a exploração do ouro negro em Benin, na África.

O ex-presidente da Câmara dos Deputados, que quando ocupava o cargo fazia e acontecia, vai apelar da sentença e os seus advogados vão declarar que ele é inocente e tudo o mais. Cunha, hoje execrado por praticamente todos os setores da sociedade tem carta escondida e segundo denúncias continuava a pressionar parlamentares que ajudou a eleger através de métodos que envergonham a classe política honesta.

Na época em que fazia e acontecia, Cunha era recebido com aplausos pela mídia comercial conservadora e alguns colunistas de sempre. Depois de cumprir a missão a ele designada pelos golpistas de colocar na ordem do dia o impedimento, sem crime de responsabilidade, de Dilma, as denúncias contra ele foram se avolumando, passou a ser persona non grata pelo próprio sistema golpista. Fez inúmeras ameaças de que contaria verdades incômodas para os políticos que se apossaram do poder com a sua inestimável colaboração, inclusive o próprio Presidente ilegítimo Michel Temer. Por enquanto ficou só na ameaça.

De uma forma ou de outra, Cunha hoje é uma peça que preocupa os políticos golpistas, porque é inevitável fazer a ligação entre o condenado e figuras do governo atual. Temer, segundo analistas, não sairia ileso se Cunha finalmente divulgasse o que sabe em matéria das picaretagens do PMDB que desembocaram no golpe parlamentar, midiático e judicial.

Resta agora aguardar se Cunha ao se sentir abandonado por aqueles a quem ajudou a dar o golpe decida contar o que sabe. E pelo visto sabe muita coisa que provavelmente pode abalar ainda mais o já combalido governo ilegítimo de Michel Temer e seus seis Ministros que estão sendo investigados por denúncias de corrupção.

O lamentável dessa história toda é o cinismo de certos setores políticos e midiáticos que consideravam Cunha uma “grande figura” e hoje o tratam como se não tivessem nada a ver com ele. Mas o temem da mesma forma que no passado não tão distante o cultuavam. Não adianta verdadeiramente tapar o sol com a peneira e esconder o que acontecia. Mesmo tendo memória curta, quem tiver dúvidas basta consultar os espaços midiáticos de quando Cunha tinha poder no Parlamento e em outras áreas nacionais.

Na verdade, Cunha é um exemplo concreto do que se transformou a política brasileira nos últimos tempos, sobretudo a partir do golpe parlamentar, midiático e judicial que culminou com a ascensão de Michel Temer e sua patota do PMDB, PSDB, Dem e outros agrupamentos políticos que compõem a base aliada golpista, que Cunha se quiser e tiver coragem pode balançar o coreto.

Resta agora aguardar o que vem por aí em matéria de Cunha, se é que ainda vem, e se ele realmente abrir o bico e entornar o caldo, o que acontecerá? De qualquer forma é impossível retirar a figura do ex-presidente da Câmara dos Deputados do processo golpista que culminou com o impedimento da Presidenta eleita Dilma Rousseff. Essa é uma verdade que por mais que os golpistas queiram não se pode omitir. Entrou para a história.

* Mário Augusto Jakobskind é jornalista, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato no Rio de Janeiro, escritor e autor, entre outros livros, de Parla - As entrevistas que ainda não foram feitas; Cuba, apesar do Bloqueio; Líbia - Barrados na Fronteira e Iugoslávia - Laboratório de uma nova ordem mundial.

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