Na semana passada, o presidente do PSDB e senador, Aécio Neves, pediu ao Tribunal Superior eleitoral (TSE) que seu nome fosse excluído do depoimento de Benedicto Barbosa, ex-presidente da Odebrecht, que acusava o senador de receber propina da construtora. Aécio não teve o nome excluído, mas ganhou do ministro Herman Benjamin do TSE uma tarja preta toda vez que tivesse o nome citado. Mas o senador não teve muito tempo para usufruir do mino. Mal a semana terminou, a imprensa vazou a "Lista do Janot". Com os depoimentos de Marcelo Odebrecht e Henrique Valladares, ex-executivos da Odebrecht, na Procuradoria-Geral da República, divulgada neste domingo, Aécio se tornou o campeão de pedidos de investigações para o Supremo Tribunal Federal (STF) na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
A Odebrecht acusa o senador Aécio Neves de acertar um "repasse" – palavra escolhida pela mídia tradicional para usar no lugar de "propina", quando se trata de denúncias contra o PT – de R$ 50 milhões após a construtora, juntamente com a Andrade Gutierrez, vencer o leilão para a construção da hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia, em dezembro de 2007. Outras delações complementaram as informações: a Odebrecht se comprometeu a depositar R$ 30 milhões para o senador tucano, enquanto a Andrade Gutierrez faria o "repasse" dos R$ 20 milhões restantes.
Na época, Aécio exercia seu segundo mandato como governador de Minas e tinha sob seu comando uma das empresas que integravam o consórcio que ganhou a disputa, a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). Aécio tinha, ainda, influência sobre o principal investidor da usina, a empresa Furnas (Furnas é a principal acionista da Santo Antônio Energia, com 39% do capital).
O segundo depoimento devastador para o senador tucano, vazado nesse domingo é de Henrique Valladares, ex-executivo da Odebrecht, que revelou que Aécio recebeu milhões de dólares em propina numa conta secreta em Cingapura em nome de um amigo. Ele afirma que Aécio mantinha esquema com Dimas Toledo, ex-dirigente de Furnas. O pagamento em Cingapura foi vinculado a benefícios obtidos pela empreiteira em Furnas, diretamente a investimentos no Rio Madeira.
De acordo com depoimentos de executivos, Aécio também é acusado de receber propina pelas obras da Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais.
Se por um lado o senador tucano está enroladíssimo com as acusações de ex-executivos de construtoras, a família do tucano só não virou o centro de escândalos nas páginas dos jornais por que a imprensa abafou o caso
Durante a Operação Eficiência no início desse mês, a Polícia Federal encontrou uma planilha na residência do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), com nomes, e quantias que cada um teria recebido no esquema de corrupção em que é apontado como chefe durante seu governo. Cabral foi preso no ano passado pela Operação Calicute, que investigava desvio de recursos públicos federais em obras realizadas pelo governo do estado do Rio de Janeiro. As operações Eficiência e Calicute resultaram em dois pedidos de prisão contra o ex-governador Sérgio Cabral.
Dois nomes citados no documento foram blindados e ocultados na imprensa, que usam e abusam nas manchetes de expressões como "amigo de Lula", "filho do Lula", "parente de Lula", "aliado de Lula’, numa tentativa de associar o ex-presidente a denúncias de corrupção.
Pois mais uma vez a mídia tradicional não fez a mínima questão de informar que entre os destinatários de pagamentos listados estão a ex-sogra e a ex-cunhada de Sérgio Cabral. A primeira é Angela Neves Cunha, irmã do presidente do PSDB. A segunda é sobrinha de Aécio, Nina Neves.
De acordo com a Polícia Federal, as duas foram beneficiadas com R$ 37,5 mil mensais cada uma. Os pagamentos teriam ocorrido entre agosto de 2014 e fevereiro de 2015", indica a planilha em poder da Polícia Federal
Em janeiro passado, início da Operação Eficiência, a ex-mulher de Cabral, Susana Neves Cabral, neta de Tancredo Neves, prima do vice-governador do Rio, Francisco Dornelles (PP), e do senador Aécio Neves, foi conduzida coercitivamente para prestar depoimento na Polícia Federal e Ministério Público Federal do Rio.
Susana, que está sendo acusada de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, contou que recebia de R$ 5 mil a R$ 20 mil por mês do ex-marido como uma "pensão informal". Mas nas planilhas obtidas pelo MPF sobre os gastos de Cabral, há registros que entre 2014 e 2016, Suzana teria recebido R$ 883 mil em propina.
Para justificar o valor, Susana disse que trabalha como assessora do deputado Jorge Picciani, presidente da Alerj e presidente do PMDB no Rio. Segundo a Polícia Federal, o valor pago pode ser muito maior, como vem mostrando as investigações, já que só uma parte da planilha foi analisada.
Na decisão que autorizou a condução coercitiva, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal do Rio, afirmou que Susana é pessoa "direta e constantemente beneficiada com vultosas transferências de valores, ao que parece obtidos pela atuação ilícita da Organização Criminosa descrita", descreve o magistrado.
Como chamar a rede familiar montada pelos Neves para o recebimento de "repasses"? Seria nepotismo de corrupção?
*Publicado originalmente no Blog da Helena, no Rede Brasil Atual
Edição: Rede Brasil Atual