GREVE DA PM

10 batalhões da PM do Rio estão paralisados e 20 funcionam parcialmente, diz policial

Bairros da zona norte como Méier e Tijuca estão com menos policiamento; policial recomenda não sair na rua

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Esposas de PMs bloquearam entrada e saída do Batalhão de Choque no Rio de Janeiro, onde viaturas são abastecidas
Esposas de PMs bloquearam entrada e saída do Batalhão de Choque no Rio de Janeiro, onde viaturas são abastecidas - Foto: Leon Diniz

No Rio de Janeiro, um movimento grevista da PM teve início nessa sexta-feira (10). O protesto dos familiares de PMs e aquartelamentos no Espírito Santo cruzou a fronteira e inspirou os policiais fluminenses. Sem receber o 13º salário, pagamentos de horas extras prestadas durante a Olimpíada e do benefício concedido por cumprimento de metas com redução de criminalidade, parte dos PMs decidiu cruzar os braços.

Em conversa com o Brasil de Fato um policial militar afirmou que dez batalhões da PM estão totalmente paralisados. Eles estão concentrados em bairros como Tijuca, Méier, Rocha Miranda, na zona norte, e nos municípios de Mesquita, São João de Meriti e São Gonçalo, na região da Baixada Fluminense, além de Niterói. O PM que não quis se identificar afirmou que a paralisação é parcial em outros 20 batalhões. No total, o estado possui 42 batalhões e 107 companhias destacadas. “Méier e Tijuca são os dois bairros com menos policiamento na noite dessa sexta. O ideal que é que as pessoas que moram nesses bairros não saiam de casa essa noite”, aconselha o PM do movimento grevista. Ele pediu anonimato, já que policiais militares são proibidos de dar entrevistas.

A Assessoria de Imprensa da Polícia Militar confirma que grupos de familiares de policiais se concentraram na frente de 27 batalhões. O protesto começou ainda na madrugada desta sexta.

Um dos principais movimentos grevistas de esposas de PMs se concentrou em frente ao Batalhão de Choque no Rio de Janeiro, no bairro da Lapa, no centro. Nessa unidade são abastecidas boa parte das viaturas que circulam na cidade. “As viaturas que estão circulando é porque ainda estão com combustível. Aqui nesse batalhão estamos ocupando as três entradas e saídas. Não vamos deixar sair nenhum carro, nem policial. Já tivemos problema com um comandante, mas aqui não vai sair ninguém”, garante a esposa de um PM, entrevistada pela Mídia Ninja, em frente ao Batalhão de Choque.

O deputado estadual Paulo Ramos (PSOL), membro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), disse que já propôs uma reunião de emergência para segunda-feira (13). O objetivo da reunião é propor uma mediação dos parlamentares entre os PMs e o governo Pezão. “Aqui há um impasse que só vai se resolver com um diálogo. E a solução passa pelo recebimento em dias de seus pagamentos, que o governo não paga. É muito fácil ser contra a greve e chegar em casa, ter a comida na mesa e as contas estão todas pagas. Precisamos nos colocar no lugar desses policiais”, ressalta o deputado.

De acordo com o deputado, o medo da população é que a solução não seja rápida e que resulte em violência como no Espírito Santo. “As coisas já estão acontecendo aqui no Rio de Janeiro. Os familiares já estão indo para a frente das unidades. A surpresa é que essa se tornou uma nova forma de luta. A experiência no Espírito Santo está se propagando pelo Brasil inteiro, como fogo em mato seco. O que estamos vendo é o caos social”, afirma o parlamentar.

Para o coronel Ibis Pereira, que já foi da cúpula da Polícia Militar do Rio de Janeiro e agora está afastado da corporação, o que se está desenhando no Rio é uma crise, fruto do fracasso das políticas públicas de segurança. “O que está por trás dessa greve é algo muito maior. Quando morrem 18 policiais em menos de dois meses (2017), sem que isso mude o direcionamento da política de segurança é sinal de que esses policias são desconsiderados inclusive como pessoas. São tratados como sub cidadãos, como peças que podem ser substituídas”, denuncia o coronel da PM.

De acordo Ibis Pereira, a greve explodiu em um momento de falência do sistema de segurança e Justiça. “Todo o sistema está falido. Não adianta culpar só o policial. A Justiça Criminal no Brasil precisa ser repensada. Um país onde morre uma pessoa a cada 9 mim e 60 mil pessoas ao ano, vítimas de violência, e com a quarta maior população carcerária do mundo não pode ser chamado de uma democracia. Como todas as crises, essa pode nos oferecer uma oportunidade. Esse é o momento de construir outro modelo, renovar as instituições. Essa mudança pode ser positiva para todos, inclusive para os policiais”, destaca o coronel.

A Constituição veda greves da categoria e as mobilizações de mulheres têm o objetivo de forçar uma suspensão das atividades policiais sem cometer ilegalidades.

Polícia civil

Para piorar a situação da segurança pública no Rio de Janeiro, os policiais civis do estado estão em greve desde o dia 20 de janeiro. Cerca de 90% das delegacias estão funcionando de forma parcial, atendendo apenas ocorrências de maior gravidade, segundo a Coligação dos Policiais Civis (Colpol- RJ).

Edição: Vivian Virissimo

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