Na última semana a Petrobras foi criticada pela imprensa e sindicatos dos petroleiros após anunciar as empresas convidadas a concorrer à licitação para retomada das obras da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, na região metropolitana. A repercussão se deu após divulgação da lista das 30 empresas concorrentes na qual constam apenas nomes estrangeiros para disputa da concorrência da maior obra da estatal nos próximos anos.
Após a polêmica, a Petrobras divulgou uma nota para tentar rebater as críticas. Nela, a estatal ratifica a sua escolha e enfatiza que “argumentos simplistas sobre uma inexistente preferência por empresas estrangeiras versus empresas brasileiras nessa retomada não colaboram, além de serem desrespeitosos aos milhões de brasileiros que neste momento buscam trabalho".
Em seguida, a empresa diz que “não diferencia empresas de acordo com a origem do seu capital”. No entanto, para o diretor de comunicação do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), Marcelo Nunes Coutinho, a exclusividade de estrangeiras na lista de concorrência prejudica o desenvolvimento econômico e a soberania do país.
“Mesmo que seja uma empresa estrangeira em solo brasileiro, o lucro continua indo para a matriz, em outro país. Então, eles tentam otimizar os custos ao máximo, contratando menos pessoal, entregando uma obra de pior qualidade. Além disso, com a flexibilização das leis trabalhistas, os contratos preveem salários menores para realizar as mesmas funções que fazíamos antes”, explica.
Para o diretor do Sindicato de Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Victor Marchesini, outra questão é que a escolha de uma empresa estrangeira inviabiliza que novas tecnologias sejam desenvolvidas no Brasil.
“Na prática, por mais que os trabalhadores estejam aqui, o corpo técnico mais qualificado fica na sede. Então, os projetos mais inovadores, desenvolvimento de novas tecnologias e centros de pesquisa ficam na matriz. No Brasil fica a parte do gerenciamento da obra, dessa forma, sobram para nós os serviços de menor qualificação”, acrescenta.
Em meio à repercussão, jornais e portais de notícia publicaram matérias que apontavam que mais de 20 das 30 empresas, selecionadas pela Petrobras, são envolvidas em escândalos de corrupção. No entanto, a nota divulgada pela estatal não rebateu essa informação.
“A corrupção apurada pela Lava Jato foi usada para uma questão política, queriam tirar as empresas nacionais e abrir caminho para as estrangeiras. Então, percebemos que o fundamental de tudo o que aconteceu no Brasil nos últimos meses não é corrupção, têm interesses que estão falando mais alto. Vale lembrar que além da posição da diretoria da Petrobras tem uma questão jurídica que respalda a escolha pelas empresas estrangeiras”, acrescenta Victor Marchesini.
O diretor do Senge se refere ao bloqueio cautelar da Justiça Federal que suspendeu negócios da petroleira com 23 empresas citadas na investigação, desde dezembro de 2014. Para Marcelo Nunes, do Sindipetro-NF, os impactos da preferência por empresas estrangeiras já estão sendo sentidos, mesmo antes do retorno das obras do Comperj.
“Trabalho há 14 anos na Petrobras e posso dizer que houve uma grande diferença no modo de produção na empresa nos últimos anos, após o governo Lula, quando começamos a construir plataformas no país. Conseguimos desenvolver conhecimento e técnica. Hoje já existem produções que voltaram a ser feitas China e na Coreia, nos tirando de jogo”, conclui.
Edição: Vivian Virissimo
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