Na última sexta-feira (20), Mário Ferreira foi até a Casa dos Frios, tradicional padaria da cidade, localizada na Avenida Ruy Barbosa, bairro das Graças, Zona Norte do Recife. Ele precisava comprar 20 bolos de rolo para o chefe e, por isso, entrou no estabelecimento para calcular quanto iria precisar de dinheiro. Saiu da loja e foi até o carro pegar o valor. Quando chegou no caixa, percebeu que ainda faltava uma parte. Deixou R$ 600,00 no caixa e voltou para pegar o que faltava. Foi tempo suficiente para uma funcionária identificar que ele estava portando uma arma, informar ao gerente, que logo acionou a Polícia Militar. Chegara três viaturas.
Não era a primeira vez que Mário ia ao local para comprar produtos a pedido do chefe. No entanto, nas outras vezes estava fardado. Desta vez, vestia calça jeans e camisa. É negro. A loja foi fechada, Mário foi impedido de entrar, abordado pela polícia no meio da rua e revistado, bem como o carro que estava dirigindo. A acusação era tentativa de roubo e porte de arma de fogo. O chefe de Mário Ferreira solicitou uma advogada do escritório onde trabalha para prestar assistência a Mário. O motorista, a sua advogada e o policial assinaram um Boletim de Ocorrência (B.O.) no qual os policiais informaram não ter encontrado nada que o incriminasse. A Casa dos Frios se negou a assinar e, em nenhum momento, admitiu se tratar de um caso de racismo. Em nota, pediu desculpas à Mário e à sociedade: "Como já afirmado, tudo não passou de um lamentável mal-entendido, fruto do sentimento de insegurança que permeia a sociedade brasileira".
Mário Ferreira gravou um vídeo relatando o caso. Ele afirma que após a revista, o gerente da Casa dos Frios pediu que ele deixasse para lá e pediu desculpas. “É aquela coisa, né. Você é um cidadão que paga os seus impostos e, acredito que por ser negro, não pode entrar em certo cantos”, conta no vídeo.
O caso ganhou repercussão quando o chefe de Mário Ferreira, o advogado Gilberto Lima Junior, publicou nas redes sociais um relato do caso. Movimentos e coletivos negros e movimentos populares da cidade realizaram ato, em frente ao estabelecimento, na última segunda-feira (23.01). Em vídeo do momento do ato dentro do estabelecimento, compartilhado via redes sociais, o militante do Quilombo Raça e Classe, Walter Bernardino Oliveira, disse que no Brasil “o racismo, apesar de todas as suas máscaras, não é silencioso. Estamos aqui não só para representar o companheiro Mário, mas todos os negras e negras da cidade do Recife, que neste momento estão passando pelo problema do racismo. Estão sendo discriminados, estão sendo mortos por causa do racismo”.
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