Funcionários do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) da Argentina ocuparam nessa quarta-feira (21) a sede do órgão, em La Plata, se unindo à ocupação de pesquisadores, estudantes e professores universitários na sede do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva do país, em Buenos Aires, desde segunda-feira (19). Eles protestam contra os cortes previstos pelo governo de Mauricio Macri para o conselho em 2017, que implica a redução da quantidade de bolsistas a serem admitidos no principal órgão dedicado à promoção da ciência e da tecnologia na Argentina.
Os funcionários do ministério exigem que o governo mantenha todos os 874 pesquisadores que já realizam pesquisas no Conicet e que foram recomendados por suas respectivas comissões para serem admitidos – dos quais somente 385 foram aprovados pela direção do órgão, que alega cortes orçamentários. A cifra anual de admissões do Conicet tem girado em torno de 700 cientistas. “Isso representa um corte de quase 60% dos investimentos [no órgão] e prepara o terreno para um progressivo desmantelamento da política científica dos últimos anos”, declarou uma das pesquisadoras ao jornal argentino La Nación.
Segundo Inés Gordillo, doutora em Arqueologia e pesquisadora da Universidade de Buenos Aires, os bolsistas que ficaram de fora do Conicet participam de projetos de pesquisa que estão em andamento. “Eles ficarão sem emprego e sem perspectivas no país e, além disso, essas pesquisas vão se perder, não terão continuidade”, disse Gordillo à agência de notícias Télam.
São necessários “200 milhões de pesos” para manter os bolsistas, disse Lucilla D’Urso, doutoranda bolsista do Conicet, à Télam. De acordo com Adrián Lutvak, presidente da Federação Universitária de Buenos Aires, “a ocupação é resultado da negativa total do governo ao diálogo”. “Não serão afetados somente os 500 cientistas a quem será negada a continuidade de sua carreira no Conicet, mas este ajuste nos prejudica como país. Sem desenvolvimento científico não podemos crescer como nação”, afirmou.
Segundo o jornal argentino Clarín, especialistas apontam que, em 2017, o investimento em ciência representará 0,59% do total do orçamento do governo argentino, o índice mais baixo de participação da pasta desde sua criação, no fim de 2007.
Embora o governo Macri sustente que o orçamento para a ciência aumentou em comparação com o alocado em 2016, Walter Agosto, do Centro de Implementação de Políticas Públicas, disse ao Clarín que o aumento nominal do orçamento “não diz nada”, já que deve ser levado em conta se este cresce além da inflação e dos gastos do ministério. Segundo ele, o investimento real do governo em ciência cai de 2,3 bilhões de pesos argentinos em 2016 para 1,6 bilhão em 2017.
Os pesquisadores, estudantes e funcionários pretendem manter indefinidamente a ocupação nas sedes do Conicet e do Ministério da Ciência para fazer pressão sobre o governo, para que altere a proposta de orçamento, e sobre o Congresso, para que não aprove o plano enviado pelo governo para votação.
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