Para denunciar a violência policial e a morte de cinco jovens, que tiveram seus corpos encontrados nesta segunda (7) na Grande São Paulo, movimentos negros se reúnem nesta quinta-feira (10), à partir das 18h, em vigília no Largo São Francisco, região central da capital paulista. O ato quer chamar a atenção do governo estadual e da população para o "genocídio" da juventude negra.
"Todos os dias a polícia tem apresentado novos mortos. Isso é uma recorrência, e só aumenta. Com a escalada do conservadorismo, a polícia está à vontade para cometer mais atrocidades, para reprimir, torturar e matar. É um sentimento de que eles estão acima das leis, do bem e do mal", afirma Douglas Belchior, militante do movimento negro.
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Segundo ele, a polícia agiu "de maneira deliberada, desaparecendo com cinco jovens de uma só vez e com a certeza de que isso não seria revelado".
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Beatriz Lourenço, uma das organizadoras do ato e militante da Frente Alternativa Preta, vê o caso dos jovens desaparecidos como mais um exemplo de que o genocídio à população negra é uma política de Estado.
"Esse caso, na verdade, não destoa de um processo que existe em São Paulo desde sempre. Temos períodos de mais ou menos violência policial, mas ela nunca deixou de existir. Por vezes, ele consegue estar em governos progressistas, como está em governos de extrema direita, justamente porque o genocídio é estruturante da sociedade brasileira, assim como o racismo. A gente não acredita que é por acaso que estamos nos piores índices de sobrevivência da população brasileira", lamenta Lourenço.
A militante aponta que em momentos de crise, a população mais pobre, sobretudo a negra, é a mais atingida. "Quando há avanço no conservadorismo, como acontece hoje, o número de mortes e de casos de violência policial contra a juventude negra e periférica normalmente aumenta", diz.
"O movimento negro tem hoje a necessidade de recuperar forças e fôlego. A resistência se dá quando conseguimos nos manter organizado dentro das 'quebradas' denunciando a violência", conclui Lourenço.
O protesto é convocado por movimentos como Mães de Maio, #FrenteAlternativaPreta, Uneafro-Brasil, Núcleo de Consciência Negra na USP, Revista Quilombo, Grupo Kilombagem, Quilombo Cabeça de Nego e Coletivo Terça Afro.
"Esse ato é um protesto em memória dos cinco que foram assassinados brutalmente e covardemente, mas também em memória daqueles que são mortos todos os dias. Há uma política de Estado que é genocida, que extermina negros e pobres. É algo deliberado, fruto de um projeto de Estado, sobretudo, do PSDB em São Paulo" afirma Belchior.
Caso
Os jovens Jonathan Moreira Ferreira, 18, César Augusto Gomes Silva, 20, Caíque Henrique Machado Silva, 18, Jonas Ferreira Januário, 30, e Robson de Paula, 17 (que ficou paraplégico ao ser baleado pela polícia), desapareceram após saírem de carro da zona leste da capital paulista para uma festa em Ribeirão Pires, na região metropolitana de São Paulo.
No último domingo (7), cincos corpos foram encontrados numa mata nas proximidades do destino dos rapazes, no município de Mogi das Cruzes. A polícia ainda aguarda exames de DNA para confirmar oficialmente se os corpos são dos desaparecidos, mas algumas evidências dão a certeza disso.
Uma delas é o fato de uma das vítimas usar uma fralda geriátrica e ter sinais de uma cirurgia na coluna faz a polícia acreditar que se trata do desaparecido que era cadeirante.
Outro indício é uma prótese na tíbia (o maior osso abaixo do joelho) encontrada em um dos corpos. Segundo relatos de familiares ao ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves, Caíque tinha uma prótese como essa.
Neves afirmou não descartar a possibilidade de participação policial no crime, mas que prefere aguardar o resultado das investigações.
Um dos indícios da suposta participação policial é uma mensagem enviada por Jonathan, uma das vítimas, pelo WhatsApp. Antes de sumir, ele relatou a uma amiga estar sofrendo "enquadro" e "esculacho" da polícia.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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