No último domingo 30 de outubro o candidato à reeleição Geraldo Julio (PSB) fez jus ao favoritismo e venceu a disputa do 2º turno da eleição no Recife, com 522 mil 335 votos – ou 61,3% dos votos válidos. Já o ex-prefeito João Paulo (PT) teve 333 mil 516 votos (38,7% dos votos válidos) e avaliou o resultado como “uma vitória, diante do que a esquerda vive no Brasil inteiro”. As candidaturas progressistas foram derrotadas na grande maioria das cidades brasileiras.
Encabeçando uma coligação de 20 partidos, o atual prefeito contou com o apoio do governador Paulo Câmara (PSB) e dos partidos de direita que perderam no primeiro turno, como o PSDB, o DEM e o PV. A chapa declarou à Justiça Eleitoral ter recebido R$ 3 milhões e 142 mil para investir na campanha. Já João Paulo, candidato da coligação Recife Pela Democracia – que reúne 5 partidos – declarou ter recebido R$ 2 milhões e 205 mil para a campanha. Ainda assim 23% do eleitorado da capital pernambucana não foi convencido por nenhuma das duas chapas e preferiu votar em branco, anular o voto ou se abster de votar. Diante do total de eleitores do Recife, as votações de Geraldo Julio (PSB) e João Paulo (PT) representam, respectivamente, 47% e 29,8%.
Diferente das eleições de 2012, quando fez muitas promessas – a maioria das quais não conseguiu cumprir –, desta vez Geraldo foi mais comedido com as propostas. No site oficial da campanha o prefeito reeleito não apresentou programa de governo. Entre as promessas veiculadas na TV está a construção de um Hospital do Idoso, a criação de um programa de intercâmbio para estudantes do Ensino Fundamental e a instalação de quadros digitais nas salas de aula. O prefeito também afirmou que vai abrir 1.500 novas vagas em creches – na campanha de 2012 ele prometeu construir 42 novas unidades, mas só entregou 10. Um ponto polêmico é relativo à regulamentação do transporte de passageiros da rede Uber. Em vídeo junto a taxistas Geraldo Julio prometeu intensificar a fiscalização, apreendendo os veículos que estiverem sendo utilizados como Uber.
Os resultados das urnas de 57 cidades que realizaram 2º turno repetem a tendência do 1º turno: vitória de candidaturas de direita e conservadoras, representantes de forças empresariais; e derrota do campo progressista. No Rio de Janeiro o bispo Marcelo Crivella (PRB), sobrinho do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, venceu Marcelo Freixo (PSOL). Em Belém do Pará o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL) foi derrotado por Zenaldo Coutinho (PSDB). A única vitória de destaque da esquerda se deu em Aracaju. Na capital sergipana Edvaldo Nogueira (PCdoB) superou Valadares Filho (PSB).
Para o cientista social e doutor em Serviço Social pela UFPE Eduardo Mara, o resultado das urnas não é a derrota da esquerda. “Nos acostumamos a falar de derrotas e vitórias olhando para o processo eleitoral. A esquerda sofreu uma derrota eleitoral – mas a eleição é só uma das táticas”, opina. “Precisamos lembrar que a diferença da esquerda para o outro campo político é que a esquerda busca mudanças para além da democracia representativa formal. A esquerda busca organizar o povo acumulando forças através do trabalho popular visando construir outro projeto de País. Como nos últimos anos a esquerda não desenhou outro projeto além do projeto eleitoral, acabou sofrendo as consequências de um Sistema Político herdado da ditadura militar, um Sistema Político que distancia o povo da política”, afirma.
Mara avalia que a tendência é que as prefeituras se alinhem ao governo não-eleito de Michel Temer no apoio à redução dos direitos trabalhistas. “Agora as capitais estão alinhadas com os setores que promoveram o golpe. As prefeituras estarão apoiando a retirada de direitos da classe trabalhadora”, alerta o cientista social. “Isso reforça a importância de unificar a esquerda em torno de um projeto de organização popular que paute a mudança do Sistema Político e as reformas estruturais. E isso só pode se dar por uma Constituinte Exclusiva e Soberana que abra espaço para a participação popular para além das eleições”.
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