O cineasta norte-americano Oliver Stone relatou ter enfrentado mais dificuldades na filmagem de seu longa sobre a vida de Edward Snowden do que em outras produções biográficas como Nixon, W. e JFK, que abordaram a carreira política de presidentes dos EUA. Stone diz que empresas, como a Apple e a BMW tentaram dificultar a produção.
“Houve tanto drama na produção do filme, quanto na tela”, disse o diretor - que completou 70 anos recentemente – durante o Festival de Cinema de Zurique. As informações são do jornal britânico The Independent.
Stone disse na ocasião que os estúdios cinematográficos estão sob controle de empresas que não têm interesse que a história de um ex-agente de inteligência dos EUA, que vazou informações sobre vigilância em massa e hoje é exilado na Rússia, seja divulgada.
O diretor afirmou ainda que teve reuniões com estúdios que não progrediram: “Eles não dizem que vão mandar o projeto para o andar de cima para ser aprovado, porque eles estão constrangidos pelos advogados corporativos, que dizem 'isso é já é demais, não queremos nos envolver porque estamos no meio de uma fusão com outra empresa e o governo e o Departamento de Justiça irão analisá-la”.
Empresas e governo
Ele citou como exemplos da influência corporativa sobre o cinema a BMW e a Apple. De acordo com Stone, ambas se colocaram contra seu projeto.
Segundo seu relato, seu produtor alemão “realiza todos seus filmes com acordos com a BMW, mas eles disseram 'não', porque a filial disse que era 'arriscado demais'”.
Quanto a Apple, Stone acredita que os problemas surgiram por conta do fato da companhia “ter sido indicada como uma das colaboradoras do Prism”. O Prism é justamente o programa de vigilância em massa clandestino denunciado por Snowden e que envolve empresas de tecnologia e agências governamentais.
Quanto a atuação do governo dos EUA, Stone também vê com preocupação sua influência sobre o cinema. “O governo influencia a produção de filmes também”, diz. “Há um estudo apontando que o Pentágono [representante dos militares] e a CIA [agência de espionagem] têm desempenhado um papel grande nas filmagens desde os anos 1990. Eles colaboram com séries de TV não apenas com dinheiro, eles dão conselhos, o que é melhor que patrocínio”.
Apesar do contexto político em que a cinebiografia de Snowden foi produzida, Stone afirma que é preciso balancear diversão e crítica. “O entretenimento vem primeiro, mas não se deve sacrificar a verdade por ele. A verdade é importante e meu objetivo é sempre descobrir mais coisas”.
Edição: José Eduardo Bernardes
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