O alto preço das passagens e a falta de integração com outros transportes são as maiores críticas dos usuários ao sistema de ônibus no Rio de Janeiro. É o que mostra levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O problema do transporte superou outros dois temas que também estavam na boca do povo: reforma do ensino médio e insegurança. Isso mostra o tamanho da preocupação dos cariocas com o assunto.
Em seu programa de governo, o candidato Marcelo Freixo, do PSOL, destaca que vai reduzir o preço das passagens e garantir linhas com tarifa zero nas regiões mais pobres. Freixo também quer aumentar as linhas de ônibus. “De forma participativa, vamos pensar um sistema que atenda as reais necessidades da população”, destaca Freixo em suas propostas.
O candidato Marcelo Crivella (PRB) nada menciona sobre o preço da passagem em seu programa de governo. Ele defende apenas a ampliação do horário de integração. “[Vamos] exigir a ampliação para três horas o prazo de utilização do Bilhete Único Carioca. Hoje esse prazo é de duas horas e meia”, diz as propostas do candidato apresentas no programa de governo.
Uma das maiores queixas da população é o elevado preço da passagem. Inclusive, a própria Justiça já questionou o valor. No ano passado, o Tribunal de Contas do Município (TCM) do Rio de Janeiro recomendou que a Prefeitura do Rio reduzisse o valor da tarifa de ônibus para R$ 3,25. Esse seria o preço justo a ser pago pela população, de acordo com os cálculos feitos pelos técnicos do TCM. O Ministério Público também considerou o aumento abusivo.
No entanto, o prefeito Eduardo Paes decidiu fazer exatamente o oposto e autorizou o aumento de preço para R$ 3,80.
MAFIA DOS ÔNIBUS
Segundo especialistas, o principal problema do transporte público no Rio está diretamente ligado à relação política entre as empresas de ônibus e alguns setores políticos. “Boa parte da discussão sobre mobilidade é apenas superficial. Poucos candidatos se mostram realmente dispostos a tratar das raízes desses problemas. Como principal exemplo temos a relação estranha entre o poder público e as empresas de ônibus. Quase ninguém arrisca tocar nesse assunto”, destaca o pesquisador Juciano Martins Rodrigues, do Observatório das Metrópoles, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nesse sentido, o candidato Marcelo Freixo (PSOL) foi único a apresentar uma proposta clara e de enfrentamento às empresas de ônibus. Em sua proposta de governo para a Prefeitura, Freixo garante que vai abrir a caixa preta do transporte público. “Vamos verificar os contratos entre a Prefeitura e os consórcios de ônibus”, diz seu programa de governo.
Já o candidato Marcelo Crivella (PRB) nada menciona sobre as empresas de ônibus. Ele promete apenas “concluir as obras do BRT da TransBrasil” e garantir a operação até 2017. “[Vamos] exigir das concessionárias do BRT um aumento de 20% da frota até o fim de 2018.
Segundo o pesquisador Juciano Rodrigues, as medidas propostas por Crivella teriam pouco impacto na vida da população, nos próximos quatro anos. “Essas propostas são muito ‘tímidas’ frente o tamanho da cidade e complexidade do setor. São propostas quase descartáveis. A impressão que fica é o candidato registrou essas propostas só para cumprir o protocolo da Justiça Eleitoral, mas elas não têm conteúdo”, observa o urbanista Juciano Rodrigues.
“Atualmente o Transoeste se encontra saturado, transportando 17 mil pessoas por dia, onde só cabem 15 mil. O que seria um sonho realizado virou o pesadelo da superlotação, com o BRT. Em algumas regiões essa é única opção de transporte público”, destaca o integrante do Movimento Passe Livre (MPL), José Abrahão Castillero.
Corte de linha piorou a vida dos moradores das zonas norte e oeste
Depois dos aumentos abusivos, outra medida que afetou o bolso da população foi o corte de linhas de ônibus. Com a mudança, os moradores da zona norte e oeste da cidade precisaram fazer mais baldeações, aumentando, assim, o custo e o tempo de viagem.
Foram três etapas de cortes de linhas. O primeiro foi em 2012, com o corte de 30 linhas na zona oeste. Depois foram anunciados 54 cortes em Jacarepaguá. E, por último, houve os cortes de pelo menos 48 linhas entre a zona norte e a zona sul. Isso afetou o deslocamento pela cidade, promovendo dependência do Bilhete Único.
“Os bairros mais prejudicados foram Cascadura, Tanque, Praça Seca, Madureira, Complexo do Alemão e Guaratiba. Os moradores desses locais perderam terminais e o acesso direto a hospitais e locais de trabalho”, afirma José Abrahão Castillero, do MPL.
De acordo com a avaliação do MPL, que monitora constantemente a situação do transporte público no Rio, a mudança nas linhas de ônibus aumentou a exclusão social e a divisão na cidade. “Os cortes de linhas piorou a situação de acesso ao transporte, que promove lotação e exclusão social. Os mais pobres, moradores de favelas e bairros do subúrbio, agora estão tendo que andar mais a pé. Com a crise, muitos deles também perderam o emprego e, com a passagem a esse preço, ficam marginalizados. Essa é a principal consequência do atual modelo de transporte”.
Edição: Vivian Virissimo
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