BELO HORIZONTE

Retirar capivaras da Pampulha não combate febre maculosa, alerta Conselho de Saúde

Decisão da Justiça de isolar animais pode piorar o quadro

Belo Horizonte |
Em coletiva de imprensa na tarde da terça-feira (11), o presidente do Conselho, Bruno de Abreu Gomes Pedralva, apontou que a retirada das capivaras não tem embasamento científico e não ajuda a combater a doença
Em coletiva de imprensa na tarde da terça-feira (11), o presidente do Conselho, Bruno de Abreu Gomes Pedralva, apontou que a retirada das capivaras não tem embasamento científico e não ajuda a combater a doença - Carlos Avelin

Uma liminar do Tribunal Regional Federal determinou que a Prefeitura de Belo Horizonte faça o confinamento das capivaras que estão na orla da lagoa da Pampulha e no Parque Ecológico, em Belo Horizonte. O objetivo seria conter a propagação da febre maculosa na cidade, que já atingiu pelo menos 10 pessoas em 2016 e causou quatro mortes. Porém, o Conselho Municipal de Saúde  aponta que a medida pode produzir efeito contrário.
“A retirada das capivaras, seja sacrificando-as ou confinando-as, pode ser pior para o combate à febre maculosa, pois retira uma barreira sanitária e biológica, que são as próprias capivaras. O carrapato, então, pode se espalhar por outros animais hospedeiros, inclusive nós, seres humanos, e nas casas da região da lagoa”, critica.

 “A retirada das capivaras pode ser pior para o combate à febre maculosa, pois retira uma barreira sanitária e biológica, que são as próprias capivaras”, alerta presidente do CMS

Hospedeiros

A febre maculosa é causada pela bactéria Rickettsia, transportada de um animal a outro pelo “carrapato estrela” (o Amblyomma cajennense). Um ser humano pode contrair a doença após ser picado por um carrapato que tenha picado outro animal contaminado. Por sua vez, a presença da bactéria no sangue da capivara dura, em média, 12 dias, período após o qual ela cria anticorpos e fica imune à doença.
“O combate tem que ser feito ao carrapato, não aos hospedeiros. O principal hospedeiro é o cavalo, que não pega a doença e não infecta um carrapato. Portanto, se mantiverem capivaras que têm imunidade à doença, a gente faz uma barreira sanitária e essa doença não chega aos seres humanos”, explica a médica veterinária Flávia Quadro Pereira, integrante de comissão do Conselho de Saúde que trata da relação entre a saúde humana e os animais. Ela reforça que retirar as capivaras pode deixar os carrapatos infectados famintos e em busca de outros seres vivos. “Assim, exporemos a população de uma maneira geral à febre maculosa”, reforça.
A veterinária explica que uma possível solução seria a Prefeitura colocar cavalos às margens da lagoa e monitorá-los. O carrapato é atraído pelo cavalo, que posteriormente pode passar por um processo de pulverização. A prática, além de eficaz, não causaria danos ambientais ou sofrimentos ao animal.
Reunião com Prefeitura
O Conselho Municipal de Saúde emitiu uma resolução (a 414/2016), orientando o poder público a construir um Plano de Manejo dos animais hospedeiros do carrapato estrela. Outras recomendações, dirigidas às secretarias de saúde e de meio ambiente, compreendem realizar estudos sobre os riscos da febre maculosa em outras regiões de BH (além da Pampulha), capacitar profissionais de saúde para diagnóstico e tratamento e promover a participação da sociedade civil e academia em Grupo de Trabalho para debater o problema. Na quinta (13), a presidência do Conselho fará reunião com o secretário de governo. 

Edição: ---