A guerra entre duas facções rivais e a polícia está deixando moradores do Morro do Turano sitiados. Em pleno estado de calamidade econômica, a guerra urbana volta a assombrar os cariocas. O conflito no Turano afetou, além dos moradores do local, os bairros vizinhos da Tijuca, Rio Comprido e Estácio.
Mais de 2 mil alunos ficaram sem aula na semana passada. A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que quatro escolas, três creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) suspenderam suas atividades. Além disso, o campus da universidade Estácio de Sá, a Unicarioca e o Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAP-Uerj) cancelaram as aulas por medidas de segurança.
O confronto começou no dia 9 de setembro, quando bandidos do Morro de São Carlos, vizinho do Turano, invadiram a favela. Houve troca de tiros com os bandidos locais e com a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Durante a semana, o Bope chegou a ocupar algumas ruas da comunidade, mas informou a prisão de apenas um suspeito. Durante a semana duas pessoas foram baleadas e uma terceira ficou ferida.
Os moradores relatavam os dias de horror da última semana. “O clima segue de terror no interior da comunidade, tiros foram disparados há agora pouco. A orientação é ficar dentro de casa”, informou um morador nas redes sociais. Um professor local também comentou o conflito. “Não é possível afirmar quando as escaramuças (duelos) irão terminar, mas o certo é que ao final de tudo ficaremos nós, sem nenhuma segurança na escola, nem sequer um porteiro, com nossos alunos sem vir à aula aterrorizados e os que se arriscarem a vir sujeitos a passar por diversas abordagens policiais humilhantes. O clima é pesadíssimo”, lamentou o docente.
Para o delegado de Polícia Civil Vinicius George de Oliveira, a situação no Turano é uma mostra de que a segurança pública estadual está sendo mal conduzida. “O PMDB teve uma jogada que foi usar a UPP como uma marca da campanha eleitoral do ex-governador Sérgio Cabral e depois de Luiz Fernando Pezão. Mas eles mesmos acabaram com a UPP, quando usaram uma tática com limitação temporal, como estratégia de campanha eleitoral”, afirma.
Segundo o delegado, o erro, além de político, é técnico. “Transformaram uma tática de ocupação em estratégia de segurança. Isso não podia funcionar por muito tempo”, destaca Vinicius George. Ele diz ainda que as UPPs perderam o foco inicial. “Virou uma ocupação militar para controle social. Era para ser uma solução temporária nas favelas. Junto com a polícia devia ter entrado também o curso profissionalizante, a creche, o esporte e o lazer, mas isso não aconteceu”.
Além disso, a crise econômica e a situação política de incerteza no país podem contribuir para os problemas sociais da cidade. Todas essas questões também influenciam na segurança pública, aumentando o número de assaltos e a violência de modo geral.
“Vivemos um estado de calamidade política. Soma-se a isso a crise econômica. A cidade está muito cara, com preços olímpicos, e a sociedade é totalmente dividida e hierarquizada”, analisa o delegado Vinicius George.
Os últimos dados do Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP) indicam que aumentou em 42% o número roubos de ruas em todo o território fluminense no mês de maio desse ano, se comparado com o mesmo período ano passado.
Edição: ---