Democracia

Em nota pública, advogados relatam descaso com jovens presos arbitrariamente

Eles contam que delegados chegaram a conclusões sobre processo antes dos acusados conversarem com seus advogados

São Paulo (SP) |
Momento em que os jovens foram levados ao DEIC
Momento em que os jovens foram levados ao DEIC - Midia Ninja

Advogados lançam nota pública com denuncias ao “atentado à democracia” que aconteceu durante manifestações em São Paulo neste ultimo domingo (04), quando um grupo de jovens que se dirigia ao ato foi detido e levado à delegacia. Os juristas alegam que delegados do Departamento Estadual de Investigação Criminal (DEIC) não permitiram a entrada deles na delegacia.

Os profissionais também alegam que há violações na forma como os jovens foram tratados. Segundo a nota, os delegados já haviam entrevistado os jovens e chegado a uma convicção, antes mesmo que pudessem conversar com os advogados.

A nota também denuncia a omissão da OAB em relação ao acontecido e a ausência de apoio da instituição contra a arbitrariedade das prisões.

"Enquanto subsistirem omissões como a da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP neste último domingo, subsistirá a ameaça à Democracia até definhá-la a ponto de a sociedade experimentar viver tempos sombrios de opressão em pleno século 21”, diz a nota.

Leia a nota completa:

Nota  Pública   à   Sociedade   sobre   o   atentado   à   Democracia   e   aos   Direitos Fundamentais.

Na  noite  do  último  domingo,  04/09/2016,  advogados  inscritos  na  Seccional Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil tiveram ciência da detenção indevida de  um  grupo  de  jovens,  sob  a  alegação  de  associação  criminosa,  quando,  na verdade,  o  objetivo  era  integrarem-se  à  manifestação  em  prol  da  Democracia, amplamente noticiada, inclusive em âmbito nacional.

Quando da ciência  do  fato,  os  advogados  se  dirigiram  prontamente  ao  DEIC (Departamento   Estadual   de   Investigação   Criminal) para buscar melhores informações  e  ter  contato  com  os  jovens,  a  fim  de  proceder  à  intervenção necessária, na condição de seus procuradores.

Entretanto, os policiais fecharam as portas da Delegacia,  impedindo  de  maneira clara  a  entrada  dos  advogados  no  recinto,  o  que  foi  posteriormente  confirmado por  declaração  expressa  dos  investigadores  na  presença  de  todos –inclusive  da imprensa.

Imediatamente  os  referidos  profissionais  evocaram  seus  direitos  e  prerrogativas, previstos na Lei nº 8.904/94, o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, o que foi simplesmente ignorado pela autoridade responsável.

Diante  disso,  após  algumas  tentativas,  foi  estabelecido  contato  telefônico  com  a Comissão  de  Direitos  e  Prerrogativas  da  OAB/SP,  que,  antes  de  qualquer  coisa, questionou  se  o  advogado  seria  ativista  ou  contratado.  Em  seguida,  informou registrar ciência do ocorrido e enviar alguém em representação corporativa, o que não ocorreu.

Importa esclarecer que, seja contratado, ativista, sócio, associado ou empregado, os  direitos  e  prerrogativas  alcançam  qualquer  ADVOGADO,  condição  comum  de todos nós, vinculados àquela instituição – OAB/SP.

Todo esse movimento de buscar o apoio da Ordem foi para fazer valer os direitos que  regem  a  própria  razão  de  existir  da  Comissão  de  Direitos  e  Prerrogativas  do Advogado.  Uma  vez  desrespeitados  os  direitos  dos  Advogados  e  ignorados  pela instituição,  a  existência  da  referida  Comissão  não  passa  de  uma  falácia,  pois incapaz de interceder para garantir o livre exercício da Advocacia.

Como  não  foi  possível  o  apoio  da  Ordem  dos  Advogados  do  Brasil – Seção  São Paulo, para conseguirmos adentrar à Delegacia, precisamos do apoio das figuras públicas do  ex-Senador  Eduardo  Suplicy,  Deputado  Paulo  Teixeira  e  Vereador Nabil Bonduki, já à 01:00 da segunda-feira (05/09).

Com  a  presença  deles,  pudemos  nos  reunir  com  os  delegados,  que  afirmaram, dentre outras coisas, que os detidos já haviam sido submetidos a uma entrevista prévia  (sem  falarem  com  seus  advogados  antes),  e  que  já  estaria  com  sua convicção formada, antes mesmo da oitiva formal.

Ou seja,  àquela  altura,  os  jovens  já  estavam  indiciados  sem  materialidade,  sem investigação, sem provas.

Após  a  reunião,  já  com  a  notícia  da  convicção  daquele  delegado,  tivemos  a oportunidade  de  conversar  com  os  jovens,  na  presença  dos  parlamentares mencionados.

Durante  esta  conversa,  os  adolescentes  de  outra  ocorrência  registrada  naquela noite  já  estavam  sendo  ouvidos,  sem  defensor.  Quando  os  advogados  tomaram ciência  e  solicitaram  o  refazimento  das  oitivas,  o  pleito  foi  indeferido  sob  a alegação de que “a presença dos pais supriria a presença dos advogados”.

Este relato é um comunicado formal sobre o desamparo por que passaram estes advogados que subscrevem esta nota.

Não  custa  lembrar  que  Advogado  desamparado  é  Cidadão  desamparado,  é Democracia desamparada.

Enquanto  subsistirem  omissões  como  a da  Comissão  de  Direitos  e  Prerrogativas da OAB/SP neste último domingo, subsistirá a ameaça à Democracia até definhá-la  a  ponto  de  a  Sociedade  experimentar  viver  tempos  sombrios  de  opressão  em pleno Século XXI.

Sindicato dos (as) advogados (as) de são paulo

Deputado Paulo Teixeira

Verador Nabil Bonduki

Aton Fon Filho

Ari Marcelo Solon

Fabio Nascimento Ruiz

Glauco De Melo Macedo

Rafael Mott Farah

Camila Cristina de Oliveira

Mariana Rolon Miranda

Larissa Scripiliti

Tarsila Viana de Morais

Demétrio Braga Frutuoso dos Anjos

Vinicíus Manosalva Alves

Clebia Barbosa dos Santos

Guilherme Perisse

Paula Cardoso de Mello Tucunduva margarido

Hugo Albuquerque

Thiago Barison

Diego Galindo

Erika Santos

Jean Carbonera

Kamilly Cordeiro dos Santos

Debora Pinter Moreira

Paula Bueno Rocha

Tamires Gomes Sampaio

Suzana Angélica Paim Figueiredo

Andrey da Sila Brugger

 

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