Novamente um dia 31. Outra vez um sentimento de desconcerto, de transe. De novo a farsa repetida como farsa. A mentira como mentira.
As sacadas, os comentários, as revoltas mais fantásticas são postadas nas redes sociais. Amigos escrevem sobre emoção e dor, postam fotos com o título eleitoral rasgado, surgem ensaios de funerais para uma democracia violada. Ninguém acredita bem no que está acontecendo. E pior: o que virá depois?
O espetáculo de mediocridade da votação do dia 17 de abril na Câmara deu lugar à razão cínica e fria do Senado, que passaria o trator a qualquer custo. Isso contrastou com o calor das intervenções de Dilma, de Cardozo, de Requião, de Gleisi, de Lindberg Farias, cada um fazendo talvez o discurso de suas vidas e deixando um registro histórico.
Mas a razão cínica dos golpistas e de vários analistas políticos queria limitar e tolerar: no máximo, um registro. O golpe em si já estava consumado há muito tempo.
Quando se encerra a votação, o silêncio ensurdecedor via TV Senado não é aplacado: a comemoração é tímida, capenga. Uns poucos parlamentares tentam cantar o hino brasileiro. Mas não vai.
(pela manhã ainda, antes da abertura da votação, fazendo lição com a minha filha de sete anos, lembro que eu tinha onze na votação do impeachment de Collor. Aquele tumulto que se abria no colégio e a gente matando aula sem saber bem pra onde estava correndo, o que estava acontecendo, e o que a história estava reservando para aquela década. E penso também no longo eixo que agora se abre para a juventude. Agora, até minha filha já tinha uma sacada pronta:
- Mas vão tirar a Dilma e colocar o Temer, e a gente nem votou nele?”)
E a gente chegou no começo da noite na praça do "Homem nu e da Mulher nua", em meio a alguns buzinaços dispersos, ainda na dúvida se o Ato Relâmpago juntaria gente. Em São Paulo, a convocatória, a repressão da PM e a luta acontecendo. Em outros estados do país o relato de atos se aglomerando.
A militância que tem convocado os atos em Curitiba estava tranquila, apesar de tudo. Isso porque os primeiros sinais na praça mostravam rostos novos, jovens se somando, querendo gritar, que não se representam com o que está sendo imposto. Sabem o que não querem. Encontro jornalistas, artistas, alguns amigos das antigas, juventude de organizações que agora entra sem pudor na luta contra o golpe que se consuma. O desafio aberto de que a massa dos trabalhadores ainda não entrou em cena.
Esta ferida aberta do sistema político passa agora para a gangrena. Em pouco tempo, a marcha dá largada e o corpo da caminhada mostrou que não era pequena. Mais pessoas se somam.
Em frente à Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), os gritos de golpistas, capachos imperialistas. Passando em volta do Passeio Público, motoristas aceitam bem os adesivos e aplaudem a tomada das ruas.
Mal chego em casa, outro ato está convocado para o dia primeiro, às 18 horas. As Frentes Brasil Popular e Povo sem Povo já estão apontando atos em todo o país. O Dia 7 de Setembro, mais do que nunca vai ser dos que agora de fato defendem a Constituição, os direitos sociais, as riquezas naturais e o povo que faz esse país. Aquele velho lema ganha atualidade: “Amanhã vai ser maior”.
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