As mulheres transexuais e travestis do Centro de Acolhida Especial para Mulheres Transexuais apresentam, nesta sexta-feira (25), o espetáculo inédito Divas Florescer. A apresentação única ocorrerá no palco do icônico Teatro Oficina, no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo.
Administrado pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), o abrigo Florescer foi criado em 2015 e é o único que atende exclusivamente a este público em todo o Brasil. A casa tem capacidade para acolher até 30 pessoas.
Com produção, texto e direção de Márcio Telles, o musical narra a trajetória de violência e preconceito que travestis e mulheres trans sofrem, além de explicitar as culturas desenvolvidas neste universo.
O diretor afirma que a proposta não tem precedentes no país. Resultado de uma oficina de interpretação teatral ministrada por dois meses no centro, o espetáculo foi baseado em vivências reais das mulheres e travestis, que encenam sua própria história. O roteiro é resultado de uma oficina de improvisação do próprio elenco.
A proposta, conta Márcio, foi inspirada nos grandes musicais de transformismo das extintas boates GLS da cidade entre os anos 1960 e 1980, como os clubes Medieval e Corinto.
Segundo ele, a relevância da projeto pelo trabalho com públicos marginalizados. "É extremamente importante que todos vejam como a arte tem o poder de transformação. Através dela, estas mulheres mostram não só que são capazes, mas têm uma elevação da autoestima, elas passam a ter outra perspectiva de vida. Tem sido uma vivência muito nova para elas, mas muito satisfatória", disse o diretor.
O elenco é composto por nove das 30 moradoras da casa de acolhida. Telles afirma que trabalhar com as mulheres e travestis do Florescer foi fácil. "Elas têm uma material muito rico para fornecer", disse.
Perfil
A travesti Luisa Bruna Nascimento, 43, é uma das atrizes. "Minha história não é diferente de outra mulheres trans e travestis. Tive um processo de autoconhecimento, minha família não aceitou... E se a base de tudo não nos aceita ou não nos entende, a gente vai pro mundo", contou.
Ela chegou ao Florescer há três meses, após ler informações sobre o abrigo em um flyer do Projeto Transcidadania, da prefeitura de São Paulo. Luísa, que trabalhou como prostituta na exterior por 25 anos, tentou reconstruir sua vida no Brasil mostrando um salão de beleza. Mas, há três anos, o empreendimento faliu. "Perdi literalmente tudo".
No centro, Luísa conseguiu um trabalho com carteira assinada como agente operacional do Complexo Prates, equipamento municipal que reúne centros de acolhida para pessoas em situação de rua e de dependentes químicos na região central da cidade.
Ela espera cursar um dos cursos oferecidos pelo Senac, em convênio pela prefeitura, e, quem sabe, fazer uma faculdade. "Quero sair daqui com minha autonomia e minha dignidade de volta", diz
Animada com o projeto teatral nesta sexta, ela relata a "benção" de ter sido dirigida, no ensaio geral nesta semana, pelo dramaturgo José Celso Martinez em um dos mais importantes teatros do Brasil
Luísa garante que o nervosismo, normal entre as iniciantes, não prejudicará a peça nem a mensagem social do espetáculo.
"Acima de tudo, queremos tocar na ferida da sociedade, levando a militância e o respeito ao próximo em forma de show, de maneira lúdica. Estamos gritando pelo direito de viver como qualquer cidadã".
A princípio, o espetáculo terá uma apresentação única, por falta de patrocinadores. O show, em que diretor reitera o caráter profissional, só foi concretizado devido ao trabalho voluntário e à solidariedade de parceiros, já que, do figurino à equipe técnica, tudo é emprestado.
A atriz transgênera Wallace Ruy, do Oficina, fará um monólogo de abertura. Telles inscreveu o projeto no Programa de Ação Cultural (Proac) e, em caso de aprovação, promete levar o espetáculo para outros centros de acolhida e públicos também marginalizados.
Serviço
Espetáculo: Divas Florescer
Quando: Sexta-feira, 26 de agosto de 2016, às 20h30
Duração: 1h30
Onde: Teatro Oficina - Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista, São Paulo - SP
Ingressos: R$10
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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