Neste sábado (23), os arte-educadores das Fábricas de Cultura da cidade de São Paulo completam um mês de mobilização contra demissões e sucateamento da instituição. Na segunda-feira (25), está marcada uma audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-SP), convocada pelo desembargador Wilson Fernandes e que deve ser decisiva para a classe.
As negociações com a Poiesis – Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura, organização social (OS) que gere seis unidades na cidade, ainda estão em andamento. Mas, para o educador da unidade do Capão Redondo Rodrigo Batista, os profissionais tiveram avanços concretos desde que entraram em greve no dia 23 de junho, mesmo correndo riscos do processo ser considerado ilegítimo.
O corpo de arte-educadores dos bairros de Brasilândia, Capão Redondo, Jaçanã, Jardim São Luís e Vila Nova Cachoeirinha exigem equiparação salarial, reintegração dos funcionários demitidos e retratação pública da Poiesis perante os aprendizes em luta e todas as comunidades atendidas.
"Independente do resultado, eu acho que já temos vitórias. Na primeira audiência, a esperança da Poiesis era de que o juiz soltasse uma liminar dizendo que a greve era abusiva. E não foi isso que aconteceu", disse.
Para Rodrigo, o grande ganho da greve foi simbólico, já que a OS instituição está sendo questionada, "pelos educadores, por seu público-alvo e pela Justiça do Trabalho". Além disso, adiciona ainda o caráter inovador do processo. "Estamos fazendo algo bastante novo no cenário da arte-educação. Nas fábricas, nós temos contratos CLT e isso é pouco comum. Esse fato fez com que tivéssemos respaldo legal para construir a greve", algo que ele considera atípico para a classe.
Negociações
Na sexta-feira passada (15), a Justiça ordenou que a Poiesis pague todos os dias de greve dos profissionais, que estão em estado de greve desde o início das negociações, no dia 7 de julho.
"Estamos indo para os postos de trabalho e executamos o que a Poiesis nos manda, mas estamos em alerta. Panfletamos, conversamos com as equipes... A suspensão da greve foi uma espécie de barganha para as negociações", explicou o professor.
O sindicato também foi obrigado a participar da negociação e pediu que a greve fosse suspensa desde o início das conversas no TRT. A decisão da greve foi tomada pelos funcionários sem intermédios.
Como proposta, o Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional no Estado de São Paulo (Senalba) pediu a reintegração dos 12 demitidos após o anúncio da greve em troca de metade do dissídio anual que os profissionais devem receber em setembro.
A entidade sustentou que, dessa forma, a insituição ainda pouparia 33% do repasse anual. "[com as demissões] a economia fica em torno de 15%. Então ficou provado, no Tribunal e para Poeisis, que estas demissões não são de caráter econômico, mas perseguições", afirmou Rodrigo.
Após o anúncio da greve, 15 docentes receberam um telegrama comunicando seu desligamento das Fábricas de Cultura — a maioria eram lideranças do movimento grevista. A Poeiseis não aceitou a sugestão do sindicato e fez a contra-proposta de readmitir apenas dois professores.
Depois da audiência da próxima segunda-feira, dependendo das partes, os profissionais decidirão novamente pela continuidade, suspensão ou encerramento da greve.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Poiesis, que não respondeu até o fechamento deste texto.
Desocupação
"Agora só há um silêncio lá dentro", conta Rodrigo ao ser questionado sobre a unidade do Capão Redondo. Ocupada autonomamente pelos aprendizes por 51 dias, o edifício foi reintegrado pela Polícia Militar no último sábado (16). As atividades da unidade estão suspensas por até 40 dias para manutenção. Em nota divulgada na região, a OS afirmou que o prédio foi encontrado em "situação lamentável".
O aprendiz Mateus*, de 18 anos, rebate a informação. Ele conta que os aprendizes organizavam atividades, faziam eles mesmos a limpeza do prédio e que nada foi depredado. O adolescente conta que os alunos ficaram chateados ao tomar conhecimento da desocupação.
"Criamos vínculos muito forte uns com os outros. Tudo era feito na base da conversa, organizado... A gente ficou bem triste com o que aconteceu. A Polícia Militar quebrou janelas durante a reintegração e tentou incriminar a gente", denunciou o menino. Os advogados de defesa não estavam presentes na reintegração e na perícia do prédio após a desocupação.
Mas Mateus afirma que os aprendizes ainda estão mobilizados e devem unificar o movimento com aprendizes de outras unidades e estudantes secundaristas. "Não é porque estamos fora do prédio que a luta vai morrer. Vamos continuar até eles atenderem nossa pauta de reivindicação. Agora vamos fazer barulho nas ruas. E a rua é nossa, ninguém pode impedir", afirmou.
Camila*, que faz ateliê de danças urbanas no Capão Redondo, 19, confirma o prosseguimento da luta. Para ela, a ocupação representou um processo de formação e a proposta é fortalecer os vínculos entre os aprendizes. "Foram 50 dias que eu não viveria nem em 50 anos. Foi minha primeira ocupação e no começo eu estava bastante perdida. Mas lá a gente lá a gente tinha conversas sobre o atual contexto político. Ficamos conscientes e com vontade de lutar mais, com garra para fazer alguma coisa", explicou.
A estudante afirma que agora os aprendizes "continuarão de olho" e aguardam ansiosos para saber como a Poiesis pretende administrar depois das mobilizações.
Desde o dia 24 de maio, os aprendizes se responsabilizaram pela programação cultural e pelas oficinas da instituição desde o dia 24 de maio da unidade do projeto, que é vinculado à Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo. Eles reivindicavam maior participação e transparência nas decisões de gestão, além de se posicionarem contra o fechamento de ateliês e trilhas.
* Os aprendizes pediram para ocultar seus nomes verdadeiros por receio de sofrerem retaliações
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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