MC Carol, que já havia escrito sobre o genocídio de povos indígenas no funk “Não Foi Cabral”, agora lançou “Delação Premiada”. A nova música fala sobre genocídio do povo negro, critica as UPPs e denuncia a manipulação da mídia, o racismo estrutural, os privilégios dos brancos, a parcialidade da Justiça e o abandono do Estado à periferia. A canção, que lembra os casos do pedreiro Amarildo e do dançarino DG, faz uma crítica à violência policial dirigida a pobres e negros e à forma como o judiciário brasileiro trata com diferença o criminoso rico (ainda que sua culpa esteja provada) e o suspeito (ou nem suspeito) da periferia.
“Delação premiada de pobre é tortura”, canta ela em um trecho do rap para criticar o tratamento privilegiado dado aos criminosos de colarinho branco em contraponto ao tratamento dado aos negros. Para esses últimos não cabe nem julgamento, uma vez que a pena de morte está liberada nas mãos de policiais, que torturam sistematicamente pessoas e crianças inocentes nas periferias do Brasil e saem, em sua esmagadora maioria, ilesos e impunes desses atos.
Com essa música de protesto MC Carol dá voz a uma das pautas do movimento negro: a desmilitarização da polícia. Como sabemos, a militarização é uma das causas dos níveis absurdos de violência policial praticada nas favelas que nos leva ao genocídio da população negra periférica.
A crítica de MC Carol não é dirigida apenas à polícia ou às emissoras de TV, mas a cada um que não se importa com esse genocídio em curso no país. É para cada um que ouve um caso de alguém morto na periferia e pensa: “boa coisa não estava fazendo”.
O funk da MC serve para criticar o racismo e a impunidade presentes em nossa sociedade. É para impedir que a polícia siga colocando armas na mão de pessoas inocentes assassinadas por ela. É para desmascarar as versões absurdas contadas na TV sobre crimes cometidos por ela própria. É para evitar que nos façam pensar que é comum que o negro favelado seja considerado criminoso e seja torturado por isso. É para que a nossa juventude do gueto não seja mais vítima desse projeto de morte, mas tenha como alternativa um projeto de vida.
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