Maioridade

Para superintentende da Fundação Casa é preciso repensar escola e sistema de justiça

Seminário da Fundação Rosa Luxemburgo debateu medidas não privativas de liberdade em São Paulo

São Paulo |
"A gente sabe que dentro de um sistema fechado, a gente vai contribuir muito pouco com o desenvolvimento e as mudanças dos adolescentes"
"A gente sabe que dentro de um sistema fechado, a gente vai contribuir muito pouco com o desenvolvimento e as mudanças dos adolescentes" - Divulgação/ Ação Educativa

É preciso repensar a questão escolar e o sistema de justiça que encarcera adolescentes no país, afirma a Superintendente pedagógica da Fundação Casa de São Paulo, Marisa Fortunato. "A gente sabe que dentro de um sistema fechado, a gente vai contribuir muito pouco com o desenvolvimento e as mudanças dos adolescentes", aponta.

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A pedagoga apresentou números sobre o perfil dos jovens que cumprem medida socioeducativa durante o seminário "Medidas Privativas de Liberdade Para Adolescentes", promovido pela Fundação Rosa Luxemburgo e a Ação Educativa, em São Paulo, nesta sexta-feira (15). A maioria deles (66%), contrariando o que orienta a lei atual e os argumentos que motivam os debates sobre redução da idade penal, cumpre medidas em privação de liberdade. O Estatuto da Criança e do Adolescente define que apenas em último caso, os jovens devem ser punidos com o internação. 

"Primeiro, o que tem que ficar claro e que muitas vezes as pessoas confundem, é que quem aplica a medida é o juiz, a Fundação simplesmente executa", ponderou Marisa.

A pedagoga  também apontou que entidades como o Sistema S precisam ser cobradas pela sociedade, para que ofereçam cursos compatíveis com a realidade dos jovens que passam por medidas socioeducativas. A dificuldade de inserir os adolescentes em atividades culturais, cursos e no mercado de trabalho é uma das justificativas formais para manter o jovem aprisionado, ao invés de permitir que ele cumpra medidas socioeducativas em regime aberto. 

"Se não tem essas atividades fora, ele vai ter que fazer dentro. E a nossa briga não é essa. Temos que brigar para conseguir as atividades fora. [...] Em um monte de quebrada não tem essas atividades e os diretores do semi-liberdade se perguntam 'como eu vou colocar esse menino se eu vou procurar vaga no Senac e ele tem 5ª série?'. Ninguém vai brigar com o Senac para dizer que ele tem que oferecer curso que não exige escolaridade. Porque esse adolescente tem o direito de ter curso", exemplificou.

Vários projetos de lei tramitam no Congresso para reduzir a maioridade penal, o que aumentaria a precocidade e o número dos cerceamentos de liberdade. O mais avançado deles é PLS 333/2015, do senador José Serra (PSDB-SP), que já foi aprovado no Senado e aguarda votação na Câmara.

Luta contra o sistema

Para a presidenta do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) de Sapopemba, Valdênia Paulino Lanfranchi, que também participou do debate, além do enfrentamento ao judiciário, o principal desafio para  garantir que os jovens tenham direito de receber medida socioeducativa em meio aberto é a luta contra o próprio sistema e o estado. "A principal dificuldade é enfrentar o Estado que patrocina o genocídio da juventude preta, pobre, periférica na contramão das medidas socioeducativas, que é na verdade, dar condições para esse jovem desenvolver seu potencial", pondera.

Valdênia frisa que não é possível dividir o Estado - o mesmo que pune e prefere encarcerar a oferecer opções mais adequadas de educação é o que mantém a Fundação Casa. "E quem coordenada tudo isso é o governador do Estado. Só quem recebe a medida socioeducativa é o jovem, mas as autoridades locais - diretores de escolas que não enfrentam o preconceito e o sistema de saúde que não tem programas sérios contra a drogadição - não recebem medida socioeducativa. Toda a sociedade descumpre a lei, mas só o jovem é punido e depois tem que voltar para o mesmo lugar que o privou de direitos".

Edição: José Eduardo Bernardes

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