Poderia ser só um catálogo comum na internet, mas o site Transerviços é mais do que isso. Na luta contra o preconceito, o portal é uma lista de telefones e e-mails de vários profissionais trans e travestis, de diferentes áreas, como dentistas, doceiros e fotógrafos, de todo o Brasil. O objetivo é que essas pessoas divulguem seus trabalhos sem serem discriminadas. Além disso, o site oferece serviços destinados a transexuais ou travestis. O site foi criado pela analista programadora transexual Daniela Andrade, de 36 anos, em parceria com a empresa ThoughtWorks.
Lançado no fim de junho, o portal tem duas opções. Uma para quem deseja divulgar seu trabalho e outra para quem procura algum serviço. Há ainda uma parte no site em que os organizadores explicam a diferença entre pessoas trans e travestis e qual a importância da luta pelo nome social.
A ideia surgiu depois que Daniela Andrade participou do desenvolvimento de outro projeto, o Transempregos, site que disponibiliza vagas de emprego para pessoas trans e travestis. Segundo ela, essa experiência foi importante, porém era preciso depender das empresas para as vagas existirem. Isso requeria um trabalho grande (e caro) de conscientização dessas companhias e de seus funcionários.
Daí nasceu a ideia de desenvolver o site Transerviços, que atinge principalmente transexuais e travestis que trabalham como autônomas. Para Daniela, uma iniciativa como essa é necessária porque a transfobia faz com que as empresas desistam de contratar essas pessoas por causa do preconceito.
“Esse site mostra que essa população tem talento, e também o quanto é discriminada”, diz a analista. “O Transerviços não seria necessário se o Brasil não fosse campeão de assassinatos contra pessoas trans no mundo. Também não seria necessário se 90% das mulheres trans e travestis não estivessem na prostituição, que é uma profissão legítima, mas que acaba sendo a única opção dessas pessoas”, completa.
Segundo a organização europeia Transgender Europe, poucas transexuais e travestis conseguem passar dos 35 anos em função dos assassinatos. A Rede Nacional de Pessoas Trans no Brasil, a “RedeTrans”, afirma também que 82% das mulheres transexuais e travestis abandonam o ensino médio entre os 14 e 18 anos pela discriminação escolar e falta de apoio na família.
O site também permite que pessoas que não são transexuais ou travestis divulguem seus serviços se estiverem comprometidas a atender essa população sem discriminá-la. É o caso da advogada Bárbara Moura, que se cadastrou no site e é mulher cisgênera (nome dado às pessoas que não são trans ou travestis).
“Esse projeto dá oportunidade a pessoas trans de procurarem prestadores de serviços que vão respeitá-las”, diz a advogada. “Conheço muitas pessoas trans e sei sobre o constrangimento que passam ao lidarem com pessoas que não respeitam suas identidades”, finaliza.
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