Ao contrário do que mostram as propagandas e reportagens sobre as Olimpíadas do Rio de Janeiro, existem muitos efeitos negativos que são pouco comentados. Além das remoções de comunidades e repressão policial nas favelas e periferias, o turismo sexual, o tráfico e a exploração de mulheres para prostituição também acontece com mais frequência com a chegada do megaevento.
Historicamente, os países-sede da Copa ou Olimpíadas não recebem apenas turistas e dinheiro, mas também o agravamento de uma série de violações aos direitos humanos que já acontecem nas localidades. No Brasil, a exploração sexual é uma preocupação, já que o país ocupa o segundo lugar mundial na exploração sexual e o primeiro lugar na América Latina, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
“No mercado da prostituição há toda uma organização para explorar as mulheres que são, em maioria, muito pobres e não têm escolha. Essa rede de práticas fica ainda mais clara com a chegada dos megaeventos. Existem mais boates funcionando para o turismo sexual e, portanto, mais mulheres sendo exploradas”, destaca Marianna Brito, 25 anos, da Marcha Mundial das Mulheres.
Outra preocupação é o tráfico de pessoas para exploração sexual. Segundo o último relatório do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC) da Polícia Militar, houve 1.735 vítimas de tráfico interno, entre 2006 e 2011. Das vítimas identificadas pelo Ministério das Relações Exteriores para o tráfico internacional de pessoas, 337 sofreram exploração sexual, entre 2005 e 2011.
No entanto, o impacto dos megaeventos não aparece apenas para as mulheres em situação de prostituição ou nos casos de pessoas traficadas. Também no cotidiano os abusos se agravam.
“Uma colega contou que durante a Copa ela estava atravessando a rua e um turista perguntou quanto ela cobrava pelo programa. Ela é uma mulher negra e, por isso, enfrenta um problema maior com a sexualização de seu corpo”, explica Marianna. “Os gringos são incentivados a fazer turismo sexual aqui. O corpo da mulher aparece como parte da paisagem brasileira nas propagandas das Olimpíadas. Todas nós estamos sujeitas a passar por esses abusos”, complementa.
Os abusos agravados pelos megaeventos também podem aparecer de outras formas no cotidiano das mulheres. De acordo com Maria dos Camelôs, 41 anos, que vende roupas em uma barraquinha montada no centro da cidade há 19 anos, com o projeto de higienização da prefeitura para as Olimpíadas, a repressão policial em cima dos vendedores ambulantes está pior para todos, mas com as mulheres é mais pesada.
“Chegamos para trabalhar mais tarde, já que temos dupla jornada de trabalho em casa e na rua, então, temos menos tempo com as barracas montadas até que a polícia chegue. Quando eles vêm, a gente tem que correr muito e algumas têm umas dificuldades a mais, já que estão grávidas ou com filhos e têm que ter o mesmo pique que os homens. Falam que a gente é sexo frágil, mas somos mesmo é muito fortes”, conclui Maria dos Camelôs.
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