Pouco mais de um mês para o início das Olimpíadas, o estado do Rio de Janeiro enfrenta uma de suas piores crises financeiras, espelhadas principalmente na saúde, segurança e educação. Com isso, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) encara um dos mais graves cenários de descaso do governo do estado. A quase quatro meses de portas fechadas devido a greve dos professores e servidores, a universidade está sem condições de voltar a funcionar mesmo que o movimento seja encerrado.
No campus da universidade, a infraestrutura não funciona. O mato toma conta dos arredores dos prédios, apenas um dos 13 elevadores funciona, o lixo se acumula pelos cantos e muitos banheiros estão impossibilitados de serem utilizados. Além disso, a segurança está comprometida, com assaltos e tentativas de estupros recorrentes.
Tudo isso porque o pagamento dos serviços terceirizados, como segurança e limpeza, foi suspenso pelo governo Pezão no final do ano passado. Com o fim do repasse de verbas, as empresas prestadoras de serviço demitiram cerca de 500 funcionários com mais cinco meses de salários atrasados - quase metade do total que trabalha na UERJ.
“As condições, tanto de infraestrutura como de pessoal, são lamentáveis. Por isso ainda estamos em greve, lutamos pelo fim do sucateamento da universidade, manutenção das estruturas e dos funcionários. Também por melhores condições salariais, estamos há 15 anos sem reajuste”, afirma o professor Guilherme Vargues, que também é diretor da Associação de Docentes da UERJ (Adsuerj).
Greve
Os professores também reivindicam salários integrais e um calendário de pagamento. Assim como os outros servidores estaduais, no mês de junho, receberam pouco mais que a metade dos seus salários e ainda não tem previsão de quando receberão o restante. Os estudantes bolsistas também estão recebendo atrasado.
Na segunda-feira, após um protesto de servidores técnico-administrativos e estudantes, a Secretaria de Fazenda divulgou uma nota à imprensa, em que diz ter repassado 79,1 milhões para a UERJ esse ano. A reitoria contestou a afirmação na página oficial da Universidade, explicando que o valor refere-se ao orçamento de 2015, e foi utilizado para o pagamento de bolsas de estudantes cotistas em atraso desde o ano passado.
“Apesar disso, a universidade ainda não está em ruínas como os telejornais anunciam, talvez querendo vender a ideia de que é uma entidade inviável. Não é. É preciso ser dito que a culpa toda dessa calamidade é do Governo do Estado do Rio de Janeiro, e que os funcionários, alunos, servidores e fazem o possível para manter a instituição de pé”, acrescenta o estudante de pós-graduação em geografia, Lierbert Rodrigues.
Na última quinta-feira, servidores, professores e estudantes realizaram duas manifestações em frente a casa do governador em exercício Francisco Dornelles. Uma delas, pela manhã, exibia faixas com os dizeres: "Não tem arrego, você tira o meu salário e eu tiro o seu sossego”, além de falsas cédulas de dinheiro com o rosto de Dornelles.
De tarde, uma aula pública foi realizada pelos professores para rebater o discurso oficial de que o estado não tem dinheiro para os serviços essenciais. “Tem dinheiro sim, só tem outras prioridades que não são a população”, conclui o professor Guilherme Vargues.
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