Assassinato

Berta Cáceres era alvo de Exército hondurenho, diz ex-militar ao 'The Guardian'

Primeiro-sargento de força de elite de Honduras diz estar '100% seguro' de que ativisa foi morta por unidades militares

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Berta Cáceres figurava em lista de "alvos" do Exército hondurenho, disse ex-membro de elite ao The Guardian
Berta Cáceres figurava em lista de "alvos" do Exército hondurenho, disse ex-membro de elite ao The Guardian - Goldman Environmental Prize / Divulgação

A ativista e líder indígena hondurenha Berta Cáceres figurava em uma lista distribuída a soldados das forças de elite de Honduras treinadas pelos Estados Unidos meses antes de sua morte, de acordo com militar hondurenho entrevistado pelo jornal britânico The Guardian em matéria publicada nesta terça-feira (21). O oficial disse estar "100% seguro" de que o Exército do país matou a ativista no dia 3 de março.

Segundo informações passadas à publicação britânica pelo primeiro-sargento hondurenho de nome fictício Rodrigo Cruz, o nome de Cáceres aparecia em uma lista entregue a agentes de duas unidades de elite do Exército de Honduras, que deveriam ser responsáveis por eliminar os “alvos”.

A ativista liderava uma campanha contra a hidrelétrica Agua Zarca e foi assassinada por homens não identificados em sua casa na madrugada de 3 de março deste ano em La Esperanza, no oeste de Honduras.

O primeiro-sargento, atualmente escondido em um país vizinho, servia à unidade Xatruch quando teve conhecimento das listas. O grupo, que atuava na costa do Caribe no combate a narcóticos e operações contra gangues, recebia treinamento de militares norte-americanos, colombianos e de outras nacionalidades.

Ele disse ao The Guardian que, após uma partida de futebol em meados de dezembro, o tenente responsável pela Xatruch convocou os soldados e mostrou a eles várias folhas de papel com nomes, fotografias, endereços e telefones de cada uma das pessoas presentes na lista. Havia um documento para sua unidade e o outro para a Fusina (Força de Segurança Interinstitucional), que atuava em todo o território hondurenho.

“O tenente disse que não estava disposto a executar a ordem já que os alvos eram pessoas decentes, lutando por suas comunidades”, declarou Cruz. Dias depois, o tenente abandonou a base e desapareceu. Algum tempo depois, Cruz fugiu também.

“Se eu fosse para casa, eles me matariam. Dez dos meus ex-colegas estão desaparecidos. Estou 100% seguro que Berta Cárceres foi morta pelo Exército”, disse Cruz ao The Guardian.

O soldado afirma ter visto as listas em outras ocasiões e, dentre os alvos, teria reconhecido líderes da região do Bajo Aguán, local de atuação das forças do Xatruch e cenário de disputas entre grandes produtores de óleo de palma e comunidades locais.

Na lista estava Juan Galindo que, apesar de ter deixado a região após ameaças, foi assassinado em novembro de 2014 durante visita a sua mãe. Além dele, havia Johnny Rivas e Vitalino Álvarez, do Muca (Movimento Camponês Unido), para os quais a Comissão Interamericana de Direitos Humanos já pediu proteção.

Cinco pessoas foram presas pelo assassinato de Cáceres, dentre elas o major Mariano Díaz Chávez, um major do exército de Honduras que participou de operações no Iraque.

Segundo o Guardian, os Estados Unidos repassaram a Honduras cerca de 200 milhões de dólares em auxílio militar e de polícia desde 2010 com alegação de combate ao crime organizado e imigrantes sem documentação, segundo informações dos departamentos de Defesa e Estado.

A reportagem cita também que, após o golpe de Estado em Honduras em 2009, a violência aumentou no país, com repressão a ativistas contrários ao licenciamento de centenas de megaprojetos hidrelétricos e de mineração.

Segundo a filha de Cárceres entrevista pela publicação, o depoimento de Cruz “reforçou os apelos da família por uma investigação independente internacional para encontrar os culpados intelectuais”.

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