Transporte público

Turistas vão servir de cobaia para teste do metrô no Rio

Governo pode colocar vida de passageiros em risco ao pular etapas da fase de teste

Rio de Janeiro |
Segurança dos passageiros pode ser colocada em risco na Linha 4
Segurança dos passageiros pode ser colocada em risco na Linha 4 - Shana Reis/GERJ

A fase de teste das obras da Linha 4 do metrô, que vai ligar Ipanema à Barra da Tijuca, será encurtada para dar tempo de estar funcionando durante os Jogos Olímpicos. Segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o último período de testes dos trens, denominado de “marcha branca”, foi reduzido devido a atraso nas obras. 

Semana passada, o presidente do TCE, Jonas Lopes de Carvalho, alertou para o perigo de os prazos não serem cumpridos. “O período de testes foi encurtado de um ano para dois meses. Isso é preocupante”, destacou.

Para o engenheiro Luiz Cosenza, do Sindicato dos Engenheiros (Senge-RJ), o mais grave é que não haverá testes com passageiros antes de entrar em operação.“O público da Olimpíada vai servir de cobaia”, destaca o engenheiro.

Segundo Cosenza, o governo e as empresas responsáveis pela obra e pela concessão do metrô “estão assumindo riscos” de acidentes. Para o engenheiro, essa decisão de antecipar a inauguração pode ter consequências graves. “Imagina se ocorrer um descarrilamento dentro do túnel?”, questiona.

“Estão pulando uma etapa importante do projeto, que são os testes. Isso é inédito no Brasil e no mundo. Conversei com vários colegas engenheiros e ninguém nunca viu isso acontecer antes”, afirma o engenheiro.

Atraso nos testes

Os testes, sem passageiros, começaram no dia 1º de junho e vão terminar no dia 31 de julho. Essa etapa, de acordo com o TCE, deveria ter sido iniciada em outubro de 2014 e terminado até setembro de 2015.

O que estava previsto é que, de outubro de 2015 a janeiro de 2016, seriam realizados testes com passageiros para que o metrô fosse aberto em fevereiro deste ano. Agora será inaugurado no dia 1º de agosto.

Na última terça-feira (15), o secretário de Transporte do Rio de Janeiro, Rodrigo Vieira, afirmou, em entrevista à imprensa, que a Linha 4 vai atender apenas o público dos Jogos Olímpicos durante o evento. Depois vai funcionar em tempo parcial, das 11h às 15h, até o final de 2016. 

Ela terá cinco paradas entre a zona sul e a Barra da Tijuca. Entretanto, a estação da Gávea vai funcionar apenas no final de 2017. 

Resposta do governo

Segundo o governo, o prazo de testes adotado na Linha 4 leva em consideração todos os procedimentos de segurança já adotados desde a inauguração do metrô, em 1979.

O governo declara ainda que durante o período de construção foram, inclusive, consideradas as normas internacionais de segurança.

Por fim, afirma ter como diretriz a segurança absoluta do sistema metroviário, não abrindo mão de qualquer procedimento necessário à segurança dos seus passageiros.

Quanto custa um metrô?

Segundo o Portal Oficial do governo federal para os Jogos Olímpicos, a nova linha terá 16 quilômetros de extensão, com seis estações. O investimento é de R$ 9,77 bilhões. A Linha 4 é uma das obras de metrô mais caras do Brasil. Existe um preço médio mundial de quanto custa um metrô. De acordo com Luiz Cosenza, esse valor é R$ 200 milhões por quilômetro. No Rio, cada quilômetro custa R$ 610 milhões. 

A quantia superou inclusive a Linha 6 do metrô de São Paulo, uma obra polêmica, que estava cotada como a mais cara do país. Na capital paulista, os 15,9 quilômetros vão custar aos cofres públicos R$ 9,6 bilhões. Isso significa R$ 603 milhões por quilômetro construído.

A obra da Linha 6 de São Paulo é investigada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Há suspeita de cartel entre as empresas do consórcio que ganhou a licitação, formado pelas construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão. A obra deveria ser entregue em 2018, mas só ficará pronta em 2020.

Edição: ---