Mobilizações

Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo fazem primeiro ato unificado em SP

Manifestação reuniu 100 mil, segundo organizadores; Ex-presidente Lula esteve presente

São Paulo |
A manifestação reuniu cerca de 100 mil pessoas na Av. Paulista, segundo os organizadores.
A manifestação reuniu cerca de 100 mil pessoas na Av. Paulista, segundo os organizadores. - Reprodução

Na tarde desta sexta-feira (10), as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo fizeram o primeiro ato unificado na cidade de São Paulo desde o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, há pouco mais de três semanas. Outras manifestações ocorreram em mais de 40 cidades em 19 estados do país. Os protestos tinham como grito unitário a saída de Michel Temer (PMDB) da presidência, que completará um mês no cargo no próximo domingo (12).

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A manifestação reuniu cerca de 100 mil pessoas, segundo os organizadores. O estudante William Brendo, 20 anos, acredita que o frio na região paulistana espantou alguns participantes. "No primeiro ato lembro que vim até de bermuda. Esse friozinho já dá uma inibida para sair de casa", brincou. Ele estava com algumas dezenas de colegas do curso de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). "Eu acho que a gente tem dado uma apagada, mas temos que continuar na luta", disse Aline Cumon, 21 anos.

William destaca que os primeiros atos foram também de reação às ações da direita, que hoje não estão mais presentes nas ruas. "Diferentemente da gente, eles não sabem o que querem", avaliou. "É bem mais partidária a causa deles. Não existe mais panelaços, manifestações contra a corrupção...", adicionou Aline. Para ela, muitos ainda não saíram de casa por “não entender o que está em jogo”, por exemplo, com medidas como o aumento da porcentagem da Desvinculação de Receitas da União (DRU) para 30% - aprovada na Câmara, esta semana, e que terá impacto direto no financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

O professor da Universidade de São Paulo (USP) Áquiles Mendes acompanhava o grupo de alunos. "Este é um ato que se soma a várias manifestações Fora Temer. Temos que apostar que agora o debate político se faz nas ruas para mostrar a nossa total rejeição a este governo que entrou por meio de um golpe e tudo que ele está fazendo já nestas três semanas. Não é uma questão eleitoral, mas de dizer que o Brasil está ruindo e a classe trabalhadora tem que mostrar o que já está sentindo na pele", pontuou.

Edson Carneiro Índio, secretário-geral da Intersindical, também destacou a alteção da DRU como um dos retrocessos aos direitos sociais nestes quase 30 dias de governo Temer. "Vão retirar verbas da Seguridade Social para desviar para pagamentos de juros aos bancos. Isso na União, mas também poderá ser feito nos estados", explicou. Segundo ele, os movimentos populares têm uma expectativa boa quanto ao retorno da presidenta afastada. "A população já está percebendo que a substituição do governo Dilma por outro não veio para melhorar, para punir corrupção ou pedalar; mas instalar um governo disposto a fazer um conjunto de medidas que prejudiquem o povo". 

E a acomodação com “um governo golpista”, nas palavras da socióloga Cris Abramo, 46 anos, é o que não pode acontecer agora. Ela afirmou que está presente em todos os atos já há um ano. “Eu acredito que estar nas ruas seja nosso instrumento de luta mais eficaz nesse momento e daqui para frente porque existem forças trabalhando para que esse golpe se acomode. As ruas que farão que isso não aconteça. Mas estou otimista”, disse. “Tem muita coisa sendo ameaçada por esse governo. Não é o projeto político de um partido, mas o projeto político de democracia para o Brasil e América Latina”, afirmou ela, que enfatizou estar confiante na reversão do processo de impeachment no Senado.

No frio de 14º que fazia no final da tarde de sexta-feira, o estudante Luis Dantas, de 21 anos, estava de saias. Vestido caracterizado da presidenta Dilma, com um tailleur e glitter nos lábios vermelhos, ele afirmou estar nas ruas também pelos direitos das lébiscas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT).

"Estou aqui para defender a democracia e dizer não ao retrocesso. Que os senadores tenham consciência de tudo o que está acontecendo e da grande burrice que foi afastar Dilma", disse. "Para mim, como ator e da comunidade LGBT, a exclusão é o que marca esse governo. A extinção do Ministério dos Direitos Humanos, das Mulheres e da Igualdade Racial e da Cultura, num primeiro momento, não ter mulheres nem negros na composição ministerial... Tudo isso é um retrocesso", afirmou.

O cantor Chico César fez uma apresentação musical durante a manifestação. Ele se refutou a fazer uma avaliação do primeiro mês de Temer na presidência por considerá-lo "ilegítimo". "Um dia, dois dias, 30 dias... Tanto faz porque é um governo com quem não se pode conversar, nem se deve. Um governo sem voto não é governo", disse. Ele afirma que, mesmo Temer voltando atrás em pautas como a extinção do Ministério da Cultura, a pauta deve ser a saída do governo do peemedebista.

Lula

Às 20h, o ex-presidente Lula subiu ao palco de som montado na Avenida Paulista e fez duras críticas ao governo interino, além de enfatizar a ausência de representatividade nos ministério. "Não pode haver democracia se não tiver um ministério que cuide dos problemas das mulheres deste país", disse.

Dirigentes

Mais cedo, os coordenadores e dirigentes das frentes que organizaram o ato deram uma entrevista coletiva aos jornalistas. Sobre a possibilidade de plebiscito mencionado pela presidenta Dilma Roussef em entrevista à TV Brasil, Wagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) afirmou que as entidades que compõem a Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular não têm uma formulação conjunta a respeito.

"Os movimentos sociais que estão aqui querem impedir o impeachment e impedir o golpe. Nessa crise toda, a coisa mais importante que contruímos foi essa linda unidade da esquerda brasileira para retomar a democracia", disse. Ele afirmou que as entidades discutirão todos os temas "no momento adequado".

Wagner voltou a afirmar que não existe condições para a Reforma da Previdência e que o "desgoverno" de Termer em menos de um mês causou mais transtornos à classe trabalhadora do poderia se imaginar. "Não aceitaremos nenhuma mudança na Previdência que não seja discutida pelos trabalhadores", disse.

Carina Vitral, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), afirmou que a avaliação do primeiro mês do governo interino de Temer é que este é de "ataque aos movimentos sociais, aos direitos sociais e criminalização dos movimentos sociais e repressão inimaginável". Para ela, a juventude e as mulheres vêm combatendo à altura os retrocessos anunciados pelo governo.

Um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos afirmou que existe no país um "duplo golpe", por existir um presidente não eleito e contra os direitos sociais. "Estão querendo aplicar um programa que não foi eleito por ninguém, e nem seria. Um programa de retrocesso dos direitos sociais historicamente conquistados pelo povo trabalhador. Esta mobilização é apenas um capítulo, Não começou aqui e não termina agora. As mobilições vão se intensificar a cada passo desse governo ilegítimo", finalizou. 

Edição: Simone Freire.

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