Esporte

Na Argentina, federação denuncia intervenção estatal no futebol

A Fifa proíbe que governos se envolvam politicamente em suas respectivas federações de futebol

São Paulo (SP) |
O presidente da Argentina, Mauricio Macri
O presidente da Argentina, Mauricio Macri - Elza Fiúza/Agência Brasil

Em carta direcionada à Fifa e à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), a Associação do Futebol Argentino (AFA) denunciou nesta quinta-feira (2) a intervenção estatal no futebol do país pelo governo do presidente da República, Mauricio Macri.

Na última segunda (30), a Inspeção Geral de Justiça (IGJ), órgão ligado ao Ministério de Justiça e Direitos Humanos, determinou o adiamento, por 90 dias, da eleição para a presidência da entidade, marcada para 30 de junho. O presidente da AFA, Luis Segura, descartou a possibilidade de revogação do processo.

A medida foi realizada com base no artigo 10 da lei 22.315, que permite o envolvimento do governo em qualquer entidade civil se constatados atos que violem a lei. O governo alega que houve irregularidades administrativas no programa "Futebol Para Todos".

A IGJ quer investigar como foram utilizadas as verbas do programa idealizado por Cristina Kirchner, que governou o país entre 2007 e 2015. A ex-presidenta comprou os direitos de transmissão dos jogos dos campeonatos nacionais para transmissão no canal estatal de TV.

Um dos favoritos para vencer a eleição na AFA é o presidente do clube Independiente, Hugo Moyano, secretário-geral da Central Geral dos Trabalhadores, um dos sindicatos mais influentes do país. Moyano não apoiou Macri, que foi também presidente do Boca Juniors por 12 anos, nas eleições presidenciais para a Casa Rosada e se especula que o presidente esteja preocupado com a ascensão do sindicalista na associação.

"Queremos exercer a democracia no futebol. E o governo não está deixando. Isso é um atropelo. É uma intervenção velada", afirmou Moyano à imprensa argentina. O governo de Macri afirma que só é possível falar em intervenção caso haja troca no comando da instituição.

Retaliações

A Fifa proíbe que governos se envolvam politicamente em suas respectivas federações de futebol. O regulamento prevê, inclusive, suspensões das entidades, como ocorreu com a Indonésia, o Kuwait e o Benin no mês passado. A decisão poderia também afetar o Boca Juniors, cujo atual presidente é Daniel Angelici, afilhado político de Macri. Se a AFA for suspensa, o Boca pode ser excluído da semifinal da Libertadores.

Em reação à Macri, alguns dirigentes da AFA ameaçaram pedir o retorno da seleção da Copa América Centenário, que está ocorrendo nos Estados Unidos. O abandono do torneio provocaria uma punição pela Fifa de US$ 5 milhões, o equivalente a R$ 18 milhões, além de um adicional por danos e a exclusão da seleção competições futuras.

Mas a hipótese foi descartada na última terça-feira pelo presidente da AFA. Ele assegurou, em entrevista coletiva na terça-feira (31), não haver "chance de a seleção voltar dos EUA" nem "possibilidade de o Boca sair da Libertadores".

Disputa pela AFA

O novo presidente da AFA deveria ter sido eleito em dezembro do ano passado, mas a eleição terminou empatada. Os candidatos eram o apresentador de TV Marcelo Tinelli e Luis Segura, herdeiro político de Julio Grondona, ex-presidente da entidade que morreu em 2014. 

Conhecido como "Don Julio", o "poderoso chefão" do futebol argentino comandou a instituição por mais de 35 anos. Ele faleceu antes de ser investigado no esquema de corrupção da FIFA de Joseph Blatter, aos 82 anos. Segura passou a presidenciar provisoriamente a federação. 

Este será o primeiro processo eleitoral da associação desde 1979, quando Grondona foi eleito. Candidato forte contra o sindicalista Hugo Moyano, Tinelli, dirigente do clube San Lorenzo, desistiu de participar da eleição nesta quinta-feira (2).

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