Poucos dias após assumir o cargo de presidente de forma provisória, Michel Temer destituiu o então diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Ricardo Melo, no dia 17 de maio. Essa medida está sendo questionada na justiça, já que Melo tem mandato de quatro anos. Em seu lugar assumiu Laerte Rimoli, ex-coordenador de comunicação da campanha de Aécio Neves. Em seu primeiro discurso, Rimoli prometeu devolver a empresa de comunicação para a sociedade e disse que faria o básico, um jornalismo “arroz com feijão”.
Criada em 2007 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre as emissoras sob o comando da EBC estão a TV Brasil, a Rádio Nacional, a Agência Brasil, dentre outras. Nos últimos dias antes do afastamento de Dilma Rousseff, a empresa fez a cobertura dos protestos contrários e favoráveis ao golpe.
Em suas primeiras ações, o novo presidente da EBC tratou de modificar a programação, demitir comentaristas e apresentadores. “Não conhecemos o novo presidente da EBC, esse tal de Laerte que está aí. Os 2.500 funcionários são aliados na defesa da comunicação pública”, afirmou Leonel Quirino, presidente do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e funcionário da EBC.
A opinião de Quirino é compartilhada por outra sindicalista, que classificou a chegada do governo Temer à EBC como uma ameaça à comunicação pública. “Desmontar a EBC é um retrocesso de todo o projeto de comunicação pública que foi construído ao longo dos últimos anos”, denunciou Claudia Abreu, do Sindicatos dos Jornalistas da Cidade do Rio.
As reações também vieram do Conselho Curador da EBC, formado por representantes da sociedade civil, do governo federal e do poder legislativo. O grupo divulgou uma nota no dia 14 de maio em repúdio à possibilidade de mudanças na presidência da empresa de comunicação. Para o jornalista Mario Augusto Jakobskind, conselheiro pela sociedade civil na EBC, a mudança na presidência da empresa tem o objetivo de calar a voz da parcela da população. “Repudiamos a nomeação do novo presidente da EBC. Os golpistas estão se lixando para a comunicação pública. Eles não aceitam que aqueles que nunca tiveram voz entrem na programação de alguma emissora”, critica Jakobskind.
Para a Frente em Defesa da EBC, os veículos de comunicação pública devem ter autonomia frente ao governo federal e a destituição de um presidente da empresa em pleno mandato mostra a tentativa de interferência. “Isso pode significar mais na frente uma porta aberta para mudanças na lei que assegura minimamente que a EBC seja autônoma em relação ao governo federal em questão. Para a gente foi um ataque muito claro, que o governo [Temer] não está comprometido com a comunicação pública”, destaca, em nota, a Frente. Até o fechamento desta edição, a EBC não se pronunciou.
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