Artigo

Opinião: Fazer de cada lágrima um motivo de luta

Homens andam pelas ruas com medo de terem seus celulares roubados; mulheres preocupam-se com seus corpos e suas vidas

Da Marcha Mundial de Mulheres |
Fazer de cada lágrima que se sucedeu um justo motivo para as nossas lutas! Em frente!
Fazer de cada lágrima que se sucedeu um justo motivo para as nossas lutas! Em frente! - Reprodução

Uma menina foi estuprada por 30 homens. Foi filmada com a vagina sangrando e homens rindo ao fundo. O vídeo foi favoritado por mais de 500 pessoas no twitter de um dos estupradores. Ela estava completamente dopada. Dopada e violentada por 30 homens diferentes.

Os comentários dizem muito sobre a cultura do estupro. “Que doentes”, “que animais”. Eles não estavam doentes e não são animais. São homens, relativamente saudáveis psicologicamente, que vivem em uma sociedade onde as relações entre homens e mulheres são pautadas por poder e submissão. Onde o território das mulheres, que incluem seus corpos, é sistematicamente desrespeitado e invadido. Que a violência atinge a todos e todas, isso é bem verdade.

O capitalismo não poupa ninguém, mas homens andam pelas ruas com medo de terem seus celulares roubados, carros e afins. Mulheres preocupam-se, além disso, com seus corpos e suas vidas. Com os corpos e vidas de suas amigas, suas mães, tias, companheiras.

Uma vez,num dia difícil, disse a uma amiga que o mais difícil pra mim, é que a gente já nasce morta. Soa hiperbólico, eu sei, mas é real para nós. Porque se vida tem a ver com liberdade sobre os nossos corpos. Se vida tem a ver com liberdade de escolhas, se vida tem a ver com autonomia, nós morremos no primeiro choro. E morremos um pouco todo dia, quando as nossas são violentadas e apagadas. Um pouco do exercício diário tem a ver com renascer. Fazer de cada lágrima que se sucedeu um justo motivo para as nossas lutas! Em frente!

*Fabiana Oliveira é militante da Marcha Mundial das Mulheres de Campinas-SP. 

Artigo originalmente publicado no blog.

Edição: ---