As ocupações urbanas já são conhecidas na capital mineira, em que famílias se organizam para ocupar um território e reivindicar moradias. Porém, Belo Horizonte vem experimentando uma nova onda de ocupações, desta vez ligadas à cultura e à educação. São movimentos contrários à manobra política do governo provisório de Michel Temer.
As ocupações Fora Temer tiveram início em BH com o Acampamento pela Democracia, que ocupou a Praça da Liberdade durante 11 dias. Segundo os organizadores, cerca de 10 mil pessoas passaram pelo local e participaram de oficinas, debates ou levaram doações. No dia 11 de maio, último dia do acampamento, Beatriz Cerqueira desejou emocionada que “as ocupações se alastrem por escolas, fábricas, bairros”, disse, representando a Frente Brasil Popular, organizadora do Acampamento.
No dia seguinte, nascia a Ocupação Mata Machado, no terceiro andar da Faculdade de Direito e Ciências do Estado da UFMG. Ali, cerca de 50 jovens dormem, comem, debatem, ouvem música e recebem doações. Barracas estão montadas no pátio do andar em meio a inúmeras frases e desenhos nas paredes, como o rosto enorme da pintora mexicana Frida Kahlo, considerada um ícone feminista.
Quem participa da ocupação se educa e educa os outros
Na Funarte MG Ocupada o clima é um pouco diferente. O local possui cinco galpões e uma grande área aberta com grama, onde se localizam as barracas. Lá, grupos de dança, teatro e tambores de maracatu ensaiam e se apresentam livremente em todos os espaços. As atividades culturais acontecem durante todo o dia e tudo é organizado pelos artistas que estão morando no lugar.
E na noite de segunda (23), o Centro de Referência da Juventude (CRJ) foi ocupado por cerca de 40 jovens, em repúdio ao fim da Secretaria Nacional da Juventude e ao governo golpista de Michel Temer. Os manifestantes reivindicam também a abertura do CRJ, que apesar de ter sido inaugurado em 2014 até hoje não foi disponibilizado para o uso. "Vamos fazer uma carta para encaminhar ao Governador e à prefeitura, além de tirar uma comissão pra fazer essa interlocução com o Estado. Não vamos arredar o pé enquanto não se posicionarem quanto a garantia da participação da sociedade na gestão desse espaço", explica Paola Abreu, integrante do Fórum da Juventude da Grande BH.
“A cidade precisa estar viva”
A assistente social e especialista em estudos sobre cidades, Antonia Puertas, explica que as ocupações contribuem para o lazer, a cultura e a segurança dos cidadãos. “Os espaços urbanos que são cheios de vida certamente são lugares mais seguros. A rua da Funarte é sempre muito erma e hoje com a ocupação está viva”, exemplifica.
Para o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Ênio Bohnenberger, as ocupações transformam não só os lugares, mas também as pessoas, promovendo nelas uma conscientização política. “Quem deixa seus afazeres da rotina para lutar pela sociedade acaba se educando e educando os que estão próximos”, diz.
“A gente percebe que a ocupação dá certo quando vê pessoas saindo das suas casas para trazer um quilo de arroz, de feijão. E se não pode contribuir com nenhum mantimento, elas vêm só pra participar. O jovem está dando o recado de que não está aqui só pra beber, namorar e festar. A situação está crítica e nós estamos nos movimentando"
Azuila da Costa, cantora de rap e integrante da Ocupação da Funarte MG, que acontece desde 15 de maio
"A tática da ocupação vem sendo utilizada há muito tempo. Essa faculdade mesmo, durante a ditadura militar, foi ocupada pelos estudantes por democracia. Hoje nos inspiramos na ocupação das escolas que estão acontecendo em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, assim como somos também inspiração para outras ocupações”
Marcos Bernardes, estudante de Direito e participante da Ocupação Mata Machado, que acontece desde 12 de maio
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