Imagine esse nosso Brasil que você já acha injusto. Além de se desdobrar para pagar aluguel, contas, passagens de ônibus e mercado, você ainda acorda cedo, dorme pouco e passa por muito mais insatisfações. Imagina isso tudo somado a um clima de medo, perseguição e sem liberdade para dizer o que pensa. Assim era na época da ditadura militar.
Sem nenhuma explicação, as pessoas eram paradas na rua, revistadas, humilhadas. Algo muito parecido ao que acontece atualmente em comunidades ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), com a diferença de que em algumas favelas os moradores ainda podem denunciar e protestar contra os abusos. Naquele tempo, isso era possível.
O cinema brasileiro nos mostrou isso de maneira muito forte. Há três filmes que ajudam a entender o que foi a ditadura militar e como ela afetou a vida das pessoas comuns.Tudo acontecia em meio a um clima de poucas explicações, mas com certo aspecto de normalidade. O futebol, por exemplo, era um grande aliado no disfarce desse clima.
Dois desses filmes se passam na Copa do Mundo de 1970 e um deles um pouco depois. O longa-metragem "O ano em que meus pais saíram de férias", do diretor Cao Hamburger, passa exatamente durante toda a Copa. Toda angústia do país é retratada através de uma criança deixada na casa do avô, por um mês, porque os pais supostamente tinham saído de férias. O pai promete voltar a tempo de ver os jogos com ele. O filme foi feito em 2006, mas a reconstituição de 1970 é perfeita.Esse foi o momento mais endurecido da ditadura quando as pessoas eram mortas, desaparecidas, torturadas ou fugiam do país.
Essa realidade também é retratada no filme "Pra frente Brasil", de Roberto Farias, produzido em 1982 e que se passa no ano de 1970. Mesmo sendo lançado no final da ditadura, ele é proibido de passar no cinema por quase um ano. Durante a Copa de 70, enquanto a população estava concentrada no futebol, pessoas eram sequestradas e torturadas até a morte. O clima era de terror e crueldade.
Já o filme "Nunca fomos tão felizes", do diretor Murilo Salles, conta a história de um adolescente que é tirado do colégio de padres e vai morar com o pai em Copacabana. De vez em quando o pai some e aparece sem dar nenhuma explicação ao rapaz, com a justificativa de que o silêncio é para protegê-lo. O título do filme foi inspirado ironicamente em uma propaganda repetida na televisão pela ditadura militar.
Dessa forma, o cinema brasileiro retratou a realidade dessa época sombria, que muitos não têm ideia do que foi. É o cinema mostrando que esse tempo não pode repetir. Como disse Chico Buarque recentemente: “de novo, não. Não vai ter golpe".
Links dos filmes:
https://www.youtube.com/watch?v=IPAAa8uMrps
https://www.youtube.com/watch?v=rzj1_bD3BDI
https://www.youtube.com/watch?v=fnrhYwuxaTs
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