A permanência no campo é um desafio que atravessa gerações de brasileiras e brasileiros. No Sertão do Pajeú, grupos de jovens se organizam para, juntos, superarem os desafios de produzir, comercializar e gerar renda para que permaneçam nas suas comunidades. Eles integram os Grupos de Produção e Resistência (GPR), coletivos que surgiram a partir das bases da Pastoral da Juventude Rural (PJR).
No município de Iguaraci, a jovem Aline Silva, 18, da comunidade tradicional de Varzinha dos Quilombolas, se uniu a outros 11 jovens e iniciaram um GPR há três anos. Focado nas hortaliças, o grupo sentiu grandes dificuldades devido à forte seca. “Organizamos a horta, mas não possuíamos água. Conseguimos um poço, mas também secou. Naquele momento não conseguimos concretizar o projeto”, lembra. O grupo não se abateu e passou a se articular com outros coletivos da região na busca por alternativas para a produção.
Através da Rede GPR os jovens de Varzinha conheceram a experiência de outros grupos da que também produziam hortaliças, como o GPR do assentamento Ramada da Quixabeira, também em Iguaraci. Coletivamente, articulados com grupos de agricultoras, construíram a Feira Agroecológica do município. A produção também era comercializada em Sertânia, onde há o GPR do assentamento Cachoeira do Guilherme. Mas todos foram prejudicados pela estiagem. “A nossa luta é de resistência. Nós queremos superar as dificuldades da seca e permanecer no campo”, diz Aline.
No assentamento Cachoeira do Guilherme, Diogo Vasconcelos, 19, comemora a superação das dificuldades. “Hoje, além das hortaliças, produzimos frutas e polpas”, afirma. Ele e mais seis jovens produzem acerola, goiaba, manga e umbu. Este último, fruto típico do sertão, dá mais segurança para a produção, tornando a cadeia mais sustentável e permitindo melhores condições de planejamento. A produção é comercializada na comunidade em que vivem e no povoado de Albuquerque Né.
Membro da Pastoral da Juventude Rural e atuante na articulação dos grupos, Sandreildo Santos exalta o fortalecimento dos coletivos e os ganhos para a juventude do campo. “Os nossos grupos começam a pensar a partir da comunidade e como podem estruturar suas vidas ali”, diz. Feliz com as conquistas, Diogo espera seguir aumentando a produção. “A produção é boa e dá para vender e gerar renda, mas ainda queremos ampliá-la”. Atualmente funcionam 11 GPRs no Sertão do Pajeú.
Os debates sobre GPRs no Sertão do Pajeú tiveram início em 2009, mas se consolidaram a partir de 2012. De acordo com Sandreildo, o foco maior é a geração de renda. “Queremos garantir a permanência do jovem no campo, para que não precisem se mudar para a cidade”. E Diogo completa: “queremos construir nossas vidas aqui”. Hoje funcionam cerca de 80 GPRs em Pernambuco.
Segundo Sandreildo, os GPRs de Varzinha dos Quilombolas, Ramada da Quixabeira e Cachoeira do Guilherme envolvem cerca de 40 jovens na produção. Juntos estão pensando a cadeia produtiva do umbu, a partir do qual podem fazer doces, polpa e bebidas. “Também estamos pensando a estruturação da nossa unidade de beneficiamento, que vai ficar no assentamento Ramada da Quixabeira”, comemora. O grupo buscou um convênio com a Fundação Banco do Brasil (FBB) para conseguir suporte para a produção e estruturação da unidade, que além de beneficiar o umbu vai oferecer formações. A partir de junho, esses GPRs participarão de formações voltadas para o manejo de produção, beneficiamento e comercialização.
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