Os argumentos para justificar o afastamento da presidenta Dilma foram construídos ao longo de anos. Forjou-se um clima de caos no país. Esse clima passava pela ideia de que a corrupção estava entranhada em todas as esferas do governo, especialmente na Petrobras, a maior empresa pública brasileira. E, pacientemente, conseguiram – a mídia patronal, os partidos de direita, setores do Judiciário – vender a ideia de que todo esse mal estava concentrado em um partido, o PT, e, no máximo, em seus aliados mais próximos. Inclui-se aí parte do empresariado nacional que fez negócios rentáveis nesses anos de governo petista.
O que essa narrativa propositalmente não deixou claro foi a historicidade e integralidade dos fatos. A investigação foi parcial em todo o tempo. Os protegidos por essa operação foram justamente os integrantes de uma elite brutal, que foi derrotada em sucessivas eleições presidenciais, inclusive a de 2014.
Agora, ficam mais claros os interesses por trás dessa farsa. O objetivo de todo o alarde nunca foi combater a corrupção, pois Michel Temer, Eduardo Cunha, Aécio Neves e outros sete ministros que serão empossados em breve são alvos de processos de corrupção.
O que propõem é retirada de direitos trabalhistas, mais terceirizações, cortes em programas sociais, mais repressão, entrega do patrimônio público, menos cultura, menos diversidade, mais obscurantismo, machismo e racismo. Uma breve avaliação do novo ministério desse governo interino ilegítimo demonstra o rumo das escolhas que serão feitas para “tirar o Brasil da crise”.
Mas a crise que precisa ser resolvida é a do sistema político, do oligopólio dos meios de comunicação, da desigualdade social e do preconceito. E essas crises só serão resolvidas com reformas estruturais profundas e inclusivas.
Reação popular
Apesar de todo esse esforço em construir consenso e legitimidade para o golpe, grande parte da população brasileira entendeu o que estava em jogo. A elite golpista conseguiu derrubar o voto de 54 milhões de pessoas e afastar a presidenta eleita, mas não conseguiu apoio popular. Mesmo tendo todo o aparato de comunicação de massa e dinheiro. Essa é a boa notícia.
Esse golpe fortalece nos trabalhadores de todo o país a percepção de que os donos do poder não estão dispostos a fazer concessões, por pequenas que sejam. Já nos ensinou o mestre Florestan Fernandes, “contra a intolerância dos ricos, a intransigência dos pobres”.
Seremos intransigentes: o governo Temer é ilegítimo e não nos representa. A Globo é inimiga do povo brasileiro. A repressão e ataques a movimentos populares, organizações de esquerda, negros, LGBTs, mulheres e pobres não serão tolerados. Haverá reação contra qualquer tentativa de retirar direitos.
A unidade entre os descontentes com a farsa desse golpe será a única capaz de construir as alternativas possíveis para efetivamente tirar o Brasil de suas crises históricas.
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