“A Praça do Derby é o coração do Recife. Não para nunca”, comentou certa vez um vendedor de tapiocas, trabalhador que chega todos os dias às 3h da madrugada na praça que leva o nome do bairro. E foi na praça do Derby que entre os dias 25 de abril e 10 de maio cerca de 500 pessoas estiveram acampadas de forma permanente e outras muitas de forma mais dinâmica no Acampamento Popular Permanente em Defesa da Democracia, que reuniu movimentos sociais, partidos políticos de esquerda, coletivos e pessoas, articulados na Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, numa reação em defesa da democracia brasileira e contra o impeachment da presidenta Dilma Roussef.
O acampamento é contra o golpe e em defesa da democracia mas também pela manutenção e ampliação dos direitos sociais conquistados nos últimos anos. “O acampamento é a intencionalidade de gerar essa resistência em dizer tem um lugar público onde manifestamos para a população no coração do Recife que tem uma boa parcela da população que vai resistir aconteça o que acontecer, não daremos nem um passo atrás. E se a Dilma ficar estaremos na rua e se ela não ficar estaremos na rua”, explicou Paulo Mansan, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
E para manter a luta e o diálogo com a sociedade o acampamento contou com uma estrutura de alojamento, uma cozinha, que funcionou com a solidariedade de pessoas e organizações com doações de alimentos, feira orgânica, uma rádio poste - Rádio Resistência-, a comissão de comunicação, além das tendas que abrigavam Sindicatos, Centrais Sindicais e partidos políticos e os comitês de mulheres, juventude, negritude, LGBTT, saúde, cultura entre outros. E em cada espaço desse aconteceram importantes debates, formações, assembleias populares, aulas públicas, atos públicos, reuniões, atividades culturais, oficinas, entre outras atividades de acolhida a quem estava só de passagem pela praça, mas também de ação para os militantes acampados e acampadas. Um espaço fértil dos movimentos no meio do Recife.
“Também realizamos práticas integrativas como massagem, muitas pessoas acampadas ou que trabalham na cozinha tem vindo pra cá. Pensamos o cuidado de forma holística”, explicou Lorena Albuquerque, do comitê de saúde, formado por cerca de 15 organizações de saúde, mas também profissionais da área que não estão organizados, mas que estão participando do debate político. “Já fazemos a disputa pela democracia, pois a discussão do Sistema Único de Saúde (SUS) perpassa pela discussão de um novo sistema que não é o sistema capitalista. O SUS é um sistema que foi construído para um outro modelo de sociedade”, afirmou Lorena.
Mas além dos comitês, circularam na Praça do Derby, outros grupos, organizações e instituições de ensino, como universidades, que levaram para o Acampamento Popular Permanente em Defesa Democracia suas atividades, movimentando ainda mais o espaço e o deixando cada vez mais vivo. Se transformando num espaço agregador de militantes da esquerda no Recife. As atividades culturais também reforçaram a luta pela democracia. As noites com apresentações e muita música eram momentos de grande integração com trabalhadores e trabalhadoras que voltavam do trabalho e passavam por lá. Ao mesmo tempo que podiam comer uma fatia de bolo e tomar um cafezinho ou um suco de fruta. Quando ainda poderiam levar alguns dos produtos que agricultores e agricultoras vendiam na feira.
A agricultora Maria Francisca estava no acampamento vendendo seus produtos agroecológicos e ela vinha da Zona da Mata Sul de Pernambuco, do assentamento Amaraji, em Rio Formoso. “Tem sido muito bom o movimento, porque além de vender nossos produtos a gente participa da política do País e protesta contra esse golpe que não vamos aceitar. Porque foi esse governo que melhor atuou para a agricultura familiar. Tem favorecido tudo que nós precisamos, nós temos da semente, dos técnicos, tudo acompanhado, tudo que nós precisamos e nós não podemos deixar que o golpe aconteça”, afirmou a agricultura.
Em sua última semana, o Acampamento Popular Permanente em Defesa da Democracia em uma dinâmica de dialogar mais com a sociedade foi a vários bairros centrais e periféricos da cidade do Recife. Levando informação com as edições do Brasil de Fato Pernambuco, mas também o debate político do que significa um Golpe na democracia brasileira e como isso interfere na vida das pessoas. O encerramento aconteceu no último dia 10 de maio, com um grande ato de encerramento cheio de mística e fortalecido para continuar na luta. “O acampamento é a intencionalidade de gerar essa resistência em dizer tem um lugar público onde vamos manifestar para a população no coração do Recife que tem uma boa parcela da população que vai resistir aconteça o que acontecer, não daremos nem um passo atrás. Estaremos nas ruas em defesa da democracia”, reafirmou Mansan.
Acampamento vivo e permanente – O Acampamento Popular Permanente em Defesa da Democracia não está mais fixo na Praça do Derby, mas a praça ficará sempre marcada como símbolo de resistência e organização popular em defesa da democracia. Mesmo não estando em um lugar fixo, a estratégia se espalha e dos comitês que lá estavam na praça dialogando com quem passava seguem para os diversos municípios do País. A estratégia é a formação de Comitês Populares pela Democracia. A proposta é que se espalham por diversos municípios do país, que estejam nos bairros, nas associações, grupos, que o Brasil possa cobrar a efetivação da democracia, a conquista de novos direitos e o não retrocesso dos já conquistados.
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