A crise na saúde não começou agora. O caos na saúde do Rio de Janeiro vem se desenhando antes mesmo da crise econômica que atingiu em cheio o Brasil. O modelo de privatização da administração das UPAs, hospitais, clínicas e postos de saúde, assim como a falta de integração entre esses sistemas e a falta de investimento na ampliação do atendimento e na capacitação da equipe são apontados por especialistas como principais problemas.
Com a crise do petróleo internacional, a paralisação de alguns setores da Petrobrás investigada na Operação Lava Jato, teve impacto nos cofres público. E o que já era ruim piorou. “A crise da saúde começa com a crise do petróleo”, afirma a diretora do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) Isabela Soares Santos.
O Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), em Vila Isabel, ameaçou fechar as portas na semana passada por falta de recursos. Depois de uma determinação de Justiça, o governo do Estado repassou R$ 7 milhões referentes ao mês de abril ao hospital, mas ainda ficaram faltando outros R$ 2,1 milhões. Atenção médica já está comprometida em algumas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Mas, nem tudo tem a ver com a falta de recursos. “Contratar uma empresa para fazer a gestão de hospital é uma loucura. Desse modo, a saúde é pensada com a lógica do lucro. As empresas vão querer sempre priorizar os procedimentos que dão maior margem de lucro, mas que nem sempre é o que a população mais precisa”, afirma a diretora Cebes.
O modelo de saúde aplicado no Rio de Janeiro se mostrou incapaz para solucionar os problemas da população. Segundo a médica sanitarista Luciana Dias de Lima, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz, o problema maior reside na falta de integração entre UPAs, postos de saúde e hospitais.
“Esse é algo muito comum. E por que é um problema? Porque o governo tem que garantir assistência em todos os níveis de atendimento. A UPA pode resolver questões de baixa complexidade, mas se o paciente precisa de internação ou cirurgia isso vai ser um problema”, explica a médica.
Falta integração dos sistemas de saúde, o que faz com os custos sejam ainda mais altos. “Se houvesse uma boa atenção primária nos postos de saúde a gente não precisaria de UPA. Além disso, há uma carência de leitos no Rio de Janeiro. Será difícil garantir atendimento de qualidade para todos se não houver um investimento pesado na saúde”, argumenta Luciana Dias de Lima.
Para a médica sanitarista o problema não é só de gestão, mas também de falta de investimento. “Nem tudo é problema de gestão. É bom que se diga que o que se faz com os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) é algo impressionante”, destaca.
A Secretaria de Saúde não respondeu até o final desta cobertura.
Baixo investimento
O Rio de Janeiro é o estado brasileiro que menos investe na saúde. Isso é o que aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), quando divulgou em 2014 a primeira Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (Estadic) com dados de 2013. O objetivo era verificar onde os governos estaduais gastavam o dinheiro.
O Rio de Janeiro ficou em último lugar entre os estados brasileiros, com investimento de R$ 5,2 bilhões para o setor, o que representa apenas 7,2% do orçamento estadual. Portanto abaixo da meta estabelecida pela Constituição. Desde 2012, uma lei federal exige que os estados apliquem no mínimo 12% de tudo o que arrecadam na saúde.
Isso explica em parte porque o estado com a maior estrutura hospitalar da América Latina tem uma das piores atenções à saúde do Brasil.
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