Manifestações

"Novos protestos" tentam dialogar com a juventude e os movimentos tradicionais

Sem a exaltação de lideranças e com intervenções artísticas, coletivos tentam atrair um público mais amplo para as ruas

Redação |
Cerca de 2 mil pessoas participaram de ato espontâneo contra o golpe na Avenida Paulista nesta quinta (21)
Cerca de 2 mil pessoas participaram de ato espontâneo contra o golpe na Avenida Paulista nesta quinta (21) - Mídia Ninja

O movimento Ocupe a Democracia, formado prioritariamente pelo Coletivo Arrua e pelo Coletivo Produtores SP, tem pensado sobre um novo formato de ato público que têm emergido nos últimos dois meses, que mescla a horizontalidade das manifestações de junho de 2013 mas também conta com a participação de organizações sindicais e populares mais tradicionais. Entre os exemplos estão os atos que aconteceram no Largo da Batata, em São Paulo, no último dia 14; na Avenida Paulista na noite desta quinta (21); e na Candelária, no Rio, na noite desta sexta (22). 

É nesta linha que está sendo marcado mais ato contra o impeachment de Dilma Rousseff para o próximo domingo (24), no vão livre do Masp. Intitulada Manifest>Ação Contra o Golpe, a concentração está prevista para às 18h.

Segundo Jordana Dias Pereira, do coletivo Arrua, a ideia do ato surgiu da avaliação de que, provavelmente, o processo de impeachment será aprovado no Senado com a mesma facilidade que passou na Câmara dos Deputados no último domingo (17). A próxima votação está prevista para 17 de maio (terça). Nesse contexto, os coletivos pensam ser importante dialogar com a sociedade sobre um novo projeto político. "Queremos construir um novo programa para nossa democracia e levar as propostas também para outros espaços", disse.

Sobre o ato no Largo da Batata, a avaliação de Jordana é que o grupo conseguiu atrair um novo público para as ruas. Segundo ela, não foi realizada nenhuma pesquisa nas atividades, mas era evidente que compareceram pessoas muito jovens, um público LGBT e outros setores que não estavam ligados a nenhuma organização.

Pós-2013

Jordana avalia que os trabalhos da Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que também apoiam as ações do Ocupe a Democracia, têm sido fundamentais para as mobilizações contra o impeachment. Mas pondera que o modelo de atos com falas de dirigentes e carro de som restringe a participação dos mais jovens.

"Este modelo é questionado desde junho de 2013.  Existe um perfil que não se sente à vontade e deseja tomar as ruas de outra forma", afirmou Jordana.

Segundo o instituto Datafolha, no domingo 13 de março, 57% dos 500 mil manifestantes que o instituto contabilizou a favor do impeachment na Avenida Paulista eram homens, e a idade média registrada foi de 45,5 anos. Em relação à etnia, 77% declararam-se da cor branca. Já no dia 18 de março, na manifestação contra o golpe, 58% dos manifestantes eram do sexo masculino, e a média de idade era de 39 anos. Mesmo com maior pluralidade do que o ato anterior, 62% dos manifestantes se autodeclararam brancos.

Para a militante do Ocupe a Democracia, os dados da pesquisas revelam que nem as manifestações de direita nem os atos promovidos pelos setores tradicionais de esquerda no mês passado conseguiram atrair os jovens para as ruas.

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