O número de assassinatos de trabalhadoras e trabalhadores do campo aumentou 39% no ano passado, em relação a 2014. É o que afirma a 31ª edição do relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) “Conflitos no Campo Brasil 2015”, divulgado nesta sexta-feira (15). Segundo o relatório, das 50 mortes registradas, 47 delas foram causadas em conflitos por terra.
“O que vimos no ano passado é que o número de ocupações em Mato Grosso e Goiás, assim como o número de despejos, aumentaram. Os locais que são focos da expansão do agronegócio são onde mais tem aumentado os conflitos”, explica Jeane Bellini, coordenadora nacional do CPT.
A região Norte é a que concentrou o maior número de mortes de pessoas no campo, com 40 assassinatos. São 19 no estado do Pará, 20 mortes em Rondônia e 1 no Amazonas. Outras 7 mortes foram registradas em áreas da Amazônia Legal, que incorpora partes do Maranhão e do Mato Grosso. Na mesma área, foram registaradas 30 das 59 tentativas de assassinatos e 93 das 144 pessoas ameaçadas de morte.
“Em Rondônia e no Pará, na verdade na Amazônia em geral, várias áreas públicas, terras da União e do Estado, foram griladas e particulares, ou fazendeiros, aproveitaram. Eram terras que o Estado deveria estar recuperando. Isso tem causado muitas mortes”, conta a coordenadora do CPT. Para Jeane, “os estados mais desenvolvidos, mais estabelecidos, já resolveram a questão de suas terras públicas, mas na área da Amazônia Legal, essas decisões são arrastadas por muito tempo”.
Famílias expulsas e despejadas
O número de famílias que sofreram com ações de reintegração de posse aumentou 14% no ano passado em relação a 2014. Foram, ao todo, 13.903 despejos, concentrados principalmente na região Centro-Oeste, que apresentou um crescimento 466%, com 6.320 famílias despejadas. Somente no estado de Goiás, 4.130 famílias sofreram com essas ações judiciais.
As expulsões realizadas por fazendeiros, empresários e seus capangas, no entanto, apresentou decréscimo. O número passou de 963 para 795. Na região Centro-Oeste, um dos locais onde mais ganha força o agronegócio, porém, apresentou crescimento, passando de nenhum registro em 2014 para 360 em 2015.
“Os juízes também andam em marcha lenta. Não posso alegar, porque não tenho prova de nada, mas parece que eles sempre conseguem dar prazo para os fazendeiros tentarem recuperar alguma coisa. Os fazendeiros e juízes são da mesma classe, é gente que provavelmente se conhece e juízes podem achar que alguém com mais dinheiro vai desenvolver melhor a terra e vai render mais para o Estado”, argumenta Jeane Bellini.
Mortes em 2016
A Comissão Pastoral da Terra já registrou 13 mortes por conflitos no campo em 2016. Em um dos casos mais emblemáticos, duas pessoas foram assassinadas em Quedas do Iguaçu, no Paraná, no último dia 7 de abril. Os dois acampados, Vilmar Bordim, de 44 anos, e Leonir Orback, de 25 anos foram mortos por policiais militares e seguranças da empresa Araupel, segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, do qual os camponeses eram militantes. Outras sete pessoas ficaram feridas durante o ataque ao Acampamento Dom Tomás Balduíno.
“O Paraná é um estado desenvolvido e parece que sua classe de fazendeiros é mais organizada e com mais condição de resistir. Para mim, parece um caso onde esses fazendeiros atuam em conjunto: se eles perderem, outros vão perder. Então nós estamos vendo uma articulação de fazendeiros, não são ações individuais de um ou outro”, explica a coordenadora da CPT.
Edição: Simone Freire.
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