Pelo menos quatro jornais de grande circulação nacional publicaram nesta terça-feira (29) uma campanha publicitária da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que defendia explicitamente o impeachment da presidenta Dilma Rouseff (PT).
O Estado de S. Paulo, a Folha de S.Paulo, o Valor Econômico e o Correio Braziliense exibiram em locais de destaque anúncios amarelos com o pedido de "Impeachment Já", sem a descrição de que se tratava de um informe publicitário.
No portal do Estadão, a frase se repetia acima da manchete da primeira página do site (foto). Já em sua versão impressa, a propaganda tomou cerca da metade de 14 páginas do primeiro caderno do jornal. De acordo com a tabela de anúncios do jornal, o valor para um anúncio em meia página custa R$ 180 mil. Este valor, em termos comparativos, é o equivalente ao que um jornalista ganha em cinco anos de trabalho, de acordo com o piso salarial em São Paulo.
“Consórcio”
Para Altamiro Borges, jornalista e integrante do Centro de Estudos da Mídias Alternativa Barão de Itararé (organização que luta pela democratização dos meios de comunicação), a compra de espaço publicitário para defender o impeachment revela uma relação mais profunda entre mídia e setores do empresariado.
“A mídia brasileira é partidarizada, com interesses de classe. É um duplo poder: político e econômico. Um casamento, para não dizer um pacto mafioso. É um consórcio que junta os barões da mídia, setores do empresariado brasileiro e setores do Judiciário e da Polícia Federal contra a democracia brasileira”, afirma Borges.
Ele também lembra o papel específico cumprido pela federação na história política do Brasil: “É lamentável a postura da Fiesp. É importante lembrar que esta entidade foi uma das patrocinadoras do golpe de 64 e que vários integrantes da diretoria da entidade faziam questão de participar de sessões de tortura no Doi-Codi [Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna] e no Dops [Departamento de Ordem Política e Social]”.
A Fiesp, segundo Borges, estaria repetindo seu comportamento. “Skaf [presidente da Fiesp] deveria esclarecer quem paga aquela sede na Paulista. Porque se aquela sede é paga pelo Sistema S, ele está utilizando irregularmente aquele espaço como biombo de golpistas, utilizando letreiro [em defesa do impeachment] e alimentando fascistas na rua no acampamento”, diz. Ele lembra que a entidade patronal, sustentada por dinheiro de caráter tributário, serviu filé mignon a manifestantes de direita que ocuparam a avenida Paulista com apoio da Polícia Militar entre os dias 15 e 18 deste mês.
“Essa conversa de a mídia ser independente, objetiva e imparcial é papo para enganar trouxa. O Estadão nasceu patrocinado por vinte e poucos fazendeiros, alguns escravocatas. A mídia nunca teve nada de imparcial nem de neutra. Nesse momento de golpe, isso fica mais evidente. Imagine se o MST tentasse acampar em frente à Fiesp, o que a Globo ia falar”, finaliza o jornalista.
Outro lado
As redações da Folha, do Estadão, do Correio e do Valor foram contatadas pela reportagem para esclarecer se esta publicidade não afetaria sua credibilidade, mas nenhuma retornou até o fechamento da edição desta matéria. Procurada, a Fiesp também não se posicionou até o momento.
O Brasil de Fato também entrou em contato com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que não respondeu, e com a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), que, por meio de sua diretoria de comunicação, afirmou que “não iria se manifestar”.
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