TEMPO SEVERO

Tempestades em Porto Alegre e no interior do RS voltam a causar alagamentos e deixam desabrigados

Capital gaúcha revive drama mas prefeitura diz que casas de bombas estão funcionando; 48 cidades relatam danos

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Prefeitura de Porto Alegre efetua limpeza de boeiro em área nobre da cidade - Foto: Eugênio Bortolon

Chuvas torrenciais alagaram bairros da Zona Norte e da Zona Sul de Porto Alegre (RS) nesta quarta-feira (26). Ruas ficaram intransitáveis e bueiros, entupidos. No interior do estado, 48 cidades relatam danos, segundo a Defesa Civil. Até o momento, foram contabilizadas 305 pessoas desabrigadas e 560 desalojadas, com um total de 29.452 afetados.

Em todo o estado, há falta de luz, casas alagadas e rodovias intransitáveis, como a BR 116, na cidade de Camaquã. A Defesa Civil voltou a alertar para tempo severo nas próximas horas. Desde terça-feira (24), as advertências se repetem. 

Maquiagem

A Prefeitura de Porto Alegre mandou equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) para varrer ruas e evitar entupimento de bueiros. Isso foi constatado pelo Brasil de Fato RS na avenida Independência e na rua Mostardeiro, locais que não sofrem problemas de alagamento, mas têm visibilidade política. 

Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), às 11h havia 38 ocorrências abertas em razão do mau tempo. São dois bloqueios totais de via por acúmulo de água, um bloqueio por queda de árvore e 11 semáforos fora de operação.

Conforme informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o acumulado de chuva em Porto Alegre já passa de 42 mm nas últimas 12 horas, podendo chegar aos 90 mm ao longo do dia. A média histórica do mês de setembro é de 147 milímetros.

RS em alerta vermelho

O Inmet emitiu alerta vermelho de grande perigo para chuvas no centro-sul do estado. A previsão é de chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia. Há risco de alagamentos e transbordamentos de rios e deslizamentos de encostas em cidades com tais áreas de risco. Dentre os municípios incluídos na região de grande perigo estão Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Pelotas e Bagé.

Segundo a Defesa Civil estadual, em Camaquã os volumes de chuva já ultrapassaram os 207 milímetros acumulados em 72 horas. Casas foram destelhadas e pessoas estão desabrigadas.


Em Camaquã, houve rompimento de parte da BR-116, no km 407 / Foto: Divulgação/Ecosul

A Defesa Civil também orienta a população a buscar abrigo caso seja surpreendida pelo temporal severo. "Se estiver em casa, feche bem portas e janelas. Durante os temporais, retire da tomada os eletroeletrônicos. Abrigue animais e mantenha-os em segurança. Não atravesse áreas inundadas ou alagadas a pé ou de carro. A água pode esconder riscos como buracos, bueiros abertos e correnteza".

A Metsul Metereologia tem feito frequentes alertas sobre a instabilidade do tempo no RS. E informa que um vendaval causou estragos nas últimas horas no Noroeste do estado. Dados de estações meteorológicas mostraram rajadas de vento acima de 100 km/h. Intensas áreas de tempo severo atuaram na região entre o final da quarta-feira e o começo desta quinta com o avanço de uma frente fria e a atuação de uma área de baixa pressão.

A cidade de Palmeira das Missões foi a mais castigada pelo vendaval no Noroeste com vários estragos. O vento se abateu sobre o município entre 21h e 22h da quarta-feira e veio acompanhado de chuva. De acordo com dados da estação meteorológica automática do Inmet na localidade, o vento atingiu 102 km/h por lá.

Em Santa Rosa, também no Noroeste, o vento atingiu 75 km/h. O vendaval em Palmeira das Missões causou estragos por toda a área urbana da cidade, conforme informações da Defesa Civil do município. Houve destelhamentos de casas e prédios, quedas de árvores e desabamentos de muros.

Falta de manutenção das canalizações

Pouca coisa das promessas feitas para sanar os problemas causados pela enchente de maio na capital gaúcha foi cumprida. A proteção dos moradores das zonas fragilizadas em Porto Alegre ainda é precária.

"Os alagamentos ocorrem por falta de manutenção das canalizações em Porto Alegre. A água sequer consegue chegar às casas de bombas", disse o especialista em meio ambiente e ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Vicente Rauber. Para ele, a capital gaúcha precisa urgentemente de um gestor eficiente. "Não dá para proibir a palavra manutenção. Parece que esta palavra não existe no dicionário da prefeitura."

Ao jornal GZH, o diretor-adjunto do Dmae, Darcy Nunes, descartou uma enchente como a de maio, mas admitiu que "o sistema de drenagem da cidade é insuficiente para chuvas maiores como essa de ontem [quarta-feira] para hoje [quinta]".

Segundo ele, mesmo com as casas de bombas funcionando, elas não conseguem ter capacidade suficiente para tirar a água da cidade e jogar no Guaíba ou no rio Gravataí.

Nota da prefeitura

A assessoria de comunicação da prefeitura divulgou nota sobre os incidentes meteorológicos dos últimos dias. Confira:

"O prefeito coordenou reunião na manhã desta quinta-feira no Centro Integrado de Coordenação de Serviços de Porto Alegre (CEIC), com as equipes que seguem mobilizadas para atender às ocorrências devido à forte chuva que atingiu a capital desde a madrugada. A precipitação acumulada chegou a 42,2 mm, das 0h às 11h desta quinta-feira, conforme dados da Estação Belém Novo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A previsão indica que deve chover mais nas próximas horas.

As 23 casas de bombas do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) estão operando. Pela manhã, Porto Alegre registrou pontos de alagamentos em regiões atingidas pela enchente de maio e que estão com as redes de drenagem em recuperação, como o 4º Distrito, área central e o bairro Sarandi. As equipes do Dmae já limparam 270km dos 500km de redes afetados pela inundação.

Há registro de alagamento na avenida Voluntários da Pátria, sob a ponte do Guaíba. Esta região sofre influência da casa de bombas da Trensurb, localizada na área interna da empresa de trens."


 

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira