crise eleitoral

Edmundo González deixa Venezuela e terá asilo na Espanha

Vice-presidente do país disse que 'concedeu salvo-condutos' para viagem 'em nome da paz política do país'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A líder da oposição venezuelana Maria Corina Machado, acompanhada pelo candidato Edmundo Gonzalez Urrutia em Caracas, em 29 de julho de 2024 - Federico PARRA / AFP

O opositor Edmundo González, rival do presidente venezuelano Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho, deixou a Venezuela neste sábado (7) e viajou para a Espanha. O país concederá asilo político solicitado pelo ex-candidato.

"Edmundo González voa neste momento para a Espanha em um avião da Força Aérea Espanhola", anunciou o ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel Albares, que estava em Omã para uma escala em sua viagem oficial à China. "Ele também solicitou para ser beneficiado pelo direito de asilo, que certamente o governo espanhol vai processar e conceder", acrescentou.

"No dia de hoje, 7 de setembro, saiu do país o cidadão opositor Edmundo González Urrutia, que, depois de se refugiar voluntariamente na embaixada do Reino de Espanha em Caracas há vários dias, solicitou a este governo a tramitação do asilo político", anunciou algumas horas antes a vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez nas redes sociais.

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Após os contatos entre os dois governos, a "Venezuela concedeu os salvo-condutos apropriados em nome da tranquilidade e da paz política do país", acrescentou.

"Confirmo que viajou para a Espanha", declarou à AFP José Vicente Haro, advogado de González Urrutia, sem revelar mais detalhes.

Entenda o caso

A saída de González do país acontece em meio a uma crise iniciada com as eleições presidenciais, nas quais Maduro foi oficialmente reeleito para um terceiro mandato de seis anos e que gira em torno das atas eleitorais.

O órgão eleitoral do país – Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) – anunciou a vitória de Maduro em 28 de julho. Segundo o órgão, o mandatário recebeu 6,4 milhões de votos (51,97%) contra 5,3 milhões (43,18%) do opositor Edmundo González. O resultado foi publicado com 96,87% das urnas apuradas.

Os documentos de cada seção eleitoral, no entanto, não foram divulgados. O CNE alegou ter sido alvo de um ataque hacker que impediu a divulgação de todas as atas. A oposição, que alegou ter as atas de 70% das urnas, tampouco levou à público todos os documentos.

No dia 5 de agosto, González publicou uma nota, assinada com a ex-deputada ultraliberal María Corina Machado, afirmando que havia recebido 67% dos votos e que Maduro não havia alcançado 30%. O grupo opositor afirma ter recolhido de 70% das atas eleitorais.

Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina rejeitaram o resultado anunciado pelo CNE e pediram uma verificação dos votos.

González é alvo de um mandado de prisão, acusado de "conspiração, usurpação de funções, incitação à rebelião e sabotagem".

A disputa resultou em protestos em todo o país, que deixaram 27 mortos, 192 feridos e 2,4 mil detidos.

A saída de González Urrutia acontece em meio à disputa entre Venezuela e Brasil sobre a permissão concedida ao governo brasileiro para representar a embaixada da Argentina em Caracas, onde seis colaboradores da oposição permanecem refugiados desde março.

Caracas revogou "de maneira imediata" a autorização concedida ao Brasil para representar a Argentina no país, após o rompimento das relações com Buenos Aires e várias capitais latino-americanas que questionavam a reeleição de Maduro.

O Itamaraty afirmou que a notícia foi recebida com "surpresa" e que a representação da embaixada argentina continuará com o Brasil até que Buenos Aires indique um novo representante.

*com AFP

Edição: Thalita Pires