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Governo Ibaneis: universidade distrital do DF sofre com precariedade e evasão de alunos após um ano de funcionamento

Sindicato aponta problemas de gestão no campus do Lago Norte; Justiça suspende edital para conselho universitário

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Universidade do Distrito Federal Professor Jorge Amaury Maia Nunes - Foto: Divulgação/UnDF

A primeira turma de alunos da Universidade do Distrito Federal (UnDF) começou em julho de 2023. Em menos de um ano em funcionamento da universidade, chama atenção a precariedade das condições para estudantes e professores. De acordo com o Sindicato dos Docentes da UnDF (SindUnDF), em alguns cursos noturnos a evasão já chega a 50% das turmas.

O presidente do sindicato, Bruno Couto, apontou ao menos quatro problemas objetivos da universidade que classificou como graves e que ocorrem por decisão política da atual gestão: remuneração da carreira docente defasada, falta de corpo técnico-administrativo próprio, falta de representação docente e discente nas decisões e, por fim, diversos problemas no campus do Lago Norte.

De acordo com o SindUnDF, a carreira dos docentes foi criada em descompasso com o de outras universidades públicas. Atualmente, um professor com doutorado, com carga horária de 40 horas, recebe um salário médio de R$ 6 mil. De acordo com pesquisa nos editais para o mesmo cargo na Universidade de Brasília (UnB), o salário inicial é de cerca de R$ 11 mil.

"Foi uma decisão política criar um salário pouco atrativo e o resultado é que muitos professores estão fazendo outros concursos e em breve devem deixar a UnDF, que é uma universidade nova e precisa de uma consolidação", destacou Bruno.

A falta de um corpo técnico-administrativo próprio é outro problema que o Sindicato aponta que atrapalha o funcionamento da universidade. Atualmente, os servidores que realizam estes serviços são cedidos da Secretaria de Educação do DF. A universidade não fez e nem tem indicativo para um concurso específico para preenchimento desses cargos, que são fundamentais para o cotidiano universitário. Como são cedidas, essas pessoas podem ser remanejadas para outras pastas do GDF.

Consuni suspenso

Em março deste ano, a UnDF publicou um edital do processo eleitoral para a escolha de representantes da comunidade acadêmica para compor o Conselho Universitário (Consuni). No entanto, os docentes se sentiram prejudicados com o espaço minoritário que ocupariam e entraram na Justiça.

De acordo com a vice-presidente do SindUnDF, Kíssila Mendes, o sindicato entendeu que havia esgotado todas as tratativas realizadas com a reitoria até então. Na última semana, o sindicato obteve uma vitória judicial com a suspensão do edital.

"No fim de 2023 tivemos uma mesa de negociação com a reitoria onde foi acordado envio de solicitação de mudança no Estatuto da Universidade ao Conselho Distrital de Educação, para que o mesmo fosse adequado à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e garantisse os 70% de ocupação nas cadeiras dos conselhos aos professores da carreira de magistério superior", informou Kíssila.

Mesmo assim, a solicitação não foi atendida, informa a dirigente sindical. "No início do semestre letivo de 2024, a reitoria lançou edital de eleição para o Conselho Superior não garantindo sequer 20% da participação aos professores. Não houve adesão ao edital de nenhum professor da carreira ou de estudantes do campus do Lago Norte. Por isso, foi necessária a judicialização".

Só em 2024 foram realizadas duas reuniões na Câmara Legislativa do DF (CLDF), para discutir questões da universidade – uma em abril e outra em maio. A atual gestora foi convidada, mas não compareceu. A reitora Simone Benck foi indicada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).


Professor Bruno Couto apresenta problemas da UnDB em reunião na CLDF / Rinaldo Morelli/Agência CLDF

Bruno Couto também observa que o Campus da UnDF instalado no Lago Norte não possui infraestrutura para atender as demandas de professores e estudantes.

O Lago Norte é um bairro de classe média alta e distante de onde moram a maioria dos professores e principalmente dos alunos, muitos oriundos da periferia. Segundo o sindicato, o campus tem apenas uma linha de ônibus, não possui restaurante ou cantina.

"A maioria dos nossos alunos vem de longe, têm apenas uma opção de ônibus e ficam por quatro, cinco ou até mais tempo na Universidade sem a possibilidade de alimentação", relatou Bruno Couto, destacando que a falta de espaço para comer é uma opção da atual gestão, pois há condições para instalações de ao menos um local.

De acordo com o presidente, o SindUnDF já fez uma pesquisa com os estudantes que já desistiram do curso. A precariedade da universidade, bem como a distância e dificuldade de acesso foram as principais questões listadas pelos ex-alunos. "O que a gente tem visto é que a gestão atual, que está desde 2021 [quando foi implantada a UnDF] tem feito uma série de escolhas erradas que estão ameaçando o funcionamento e o futuro da instituição", declarou Bruno Couto.

"Não são desafios, problemas e lacunas. São decisões que são tomadas por um governo que vai muito nesse sentido de ataque total à educação. Ele [governo] quer o bônus e a publicidade por criar uma universidade, mas não cria uma carreira docente que valorize o profissional, cria uma universidade sem técnico-administrativo, não deixa docente e discentes participarem da vida política da universidade e não dá condição nenhuma para o estudante permanecer na universidade", desabafou Bruno Couto.

Estudantes

O representante geral dos estudantes da UnDF, Luiz Lízio, confirmou que as principais dificuldades para os alunos estão relacionadas a precariedade da universidade e por isso a permanência dos discentes nos cursos tem sido uma grande dificuldade.

"Muitos alunos simplesmente não conseguem se manter na universidade, e isso se agravou agora com o início dos projetos de extensão. Há relatos de alunos que passam das 14h, quando saem de casa, até meia noite, quando retornam, sem ter como se alimentar, devido à falta de opções tanto dentro quanto fora da universidade", diz.


Representante geral dos estudantes da UnDF, Luiz Lízio / Rinaldo Morelli/Agência CLDF

CLDF

O presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (Cesc), Gabriel Magno (PT), conduziu as duas reuniões que trataram sobre os problemas da UnDF nos últimos meses na CLDF. O encontro de abril foi uma reunião específica para discutir a gestão democrática da UnDF, mas apenas professores e alunos participaram. O segundo encontro ocorreu no final de maio, com a presença de representantes da UnB e Instituto Federal de Brasília (IFB) para discutir o ensino superior público no DF e mais uma vez a representação da gestão da UnDF esteve ausente.

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Para o presidente da Cesc, um dos principais problemas é a localização da instituição e ele lembrou da sugestão que seu grupo político fez para utilização do Centro Administrativo (Centrad), em Taguatinga, situado próximo ao metrô e dos bairros periféricos e está inutilizado. "Não foi por falta de mobilização, luta e aviso. Foi uma opção que o governo do Distrito Federal fez sobre o espaço do território onde a universidade está colocada. Fizemos uma série de audiências públicas e avisamos sobre os problemas que essa escolha poderia causar", destacou Magno ao falar sobre o problema da evasão dos estudantes.

O Brasil de Fato DF entrou em contato com a UnDF, por meio da assessoria de imprensa, que chegou a responder um primeiro e-mail solicitando mais informações sobre os questionamentos apresentados pelo sindicato sobre a evasão escolar. No entanto, após o retorno, a assessoria de imprensa da Universidade não respondeu qualquer pergunta sobre a carreira dos docentes, a ausência dos técnico-administrativos, a falta de participação docente e discente e sobre a precariedade do campus.

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Márcia Silva